São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Jovem, alegre e brejeira

CARLOS RENNÓ

especial para a Folha Bahia, barra 69. Na sala, Moraes e Galvão cantam: "Baby Consuelo sim, por que não?". A canção é sobre uma prostituta, personagem do filme "Meteorango Kid, Herói Intergaláctico", de André Luís Oliveira. No banheiro (como Lutero), imediatamente Bernadete Dinorá tem o "insight" do nome artístico que procurava. Caminho de São Tiago de Compostela, Espanha, 94: desgostosa, porque vinha sendo chamada só de Consuelo, outro "insight", e a mudança para Baby do Brasil. Tanto melhor, para quem sempre quisera ser Baby por causa de BB e para quem agora quer cantar nos States.
A MPB dos anos 70/80 deve a ela a introdução de um cantar alegre, jovem e modernamente brejeiro, que parece manter para sempre sua dança, sua graça, seu viço e vivacidade; cantar de quem, fluminense de Niterói, cidade de músicos, procura usar a voz como instrumento, tendo em Ella Fitzgerald sua musa maior, e faz do improviso no samba sua característica principal, meio como sua mestra Elza Soares -para cujo resgate ela, aliás, colaborou, relançando "Se Acaso Você Chegasse".
Deve-lhe também a recuperação, "made new", para o pop brasileiro, de coisas antigas e sofisticadas, como o chorinho, por suas regravações, apropriadamente ágeis e velozes, de Ademilde Fonseca ("Brasileirinho" e "Apanhei-te Cavaquinho").
Hoje, é a vez de ela ser (bem) lembrada pela nova geração: do repertório dos Novos Baianos, provavelmente apresentado pelo filho de Moraes, Davi, namorado e violonista de Marisa Monte, esta foi pinçar justamente uma canção que Baby cantava, "A Menina Dança".
No país das cantoras que passaram a também compor, Baby igualmente o faz, há muito. E bem: são dela, por exemplo, as letras das populares "Masculino Feminino" e "Sem Pecado e Sem Juízo" ("Tudo azul/ Adão e Eva no paraíso/ Tudo azul/ Sem pecado e sem juízo"). E dela são todas as músicas de "Um", disco que prepara sua volta para fim de fevereiro. A "canceriana telúrica", "cósmica" ex-hippie, prossegue suas "viagens" espirituais agora mais sexual e dançante.
Do tanque ao salão, fazendo sempre o gênero "humana", Baby do Brasil, mãe e gata, mãe de gatas, bota suas filhas Sarah Sheeva, Nana Shara e Zabelê pra cantar e seu filho Pedro Baby pra tocar guitarra. Ela mesma, ex-mulher de Pepeu, também toca guitarra agora. E ainda dança.

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