São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996 |
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Um nome guardado na beleza
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Mulher e mãe, portanto, da alegria do povo, da invenção e do drible, Elza uniu em matrimônio as duas esferas por excelência da cultura popular brasileira: a do couro e a do pinho. Na letra de Moraes Moreira: "Com a bola no pé e a viola na mão, vê se você destrincha: eu sou Elza Soares, eu sou Mané Garrincha". Filha de lavadeira e operário, a menina Elza alimentou-se nas tetas das cabras do então juiz de futebol Mário Vianna, com dois enes. Diz que as cabritas levantavam as patinhas quando ela chegava: "Por isso sou forte". Sucesso na virada dos 60, viveu, como Mané, dias de glória. Foi a sambista do povo. Apresentou-se num show na Copa do Chile, em 62, e viu-se, sem saber, acompanhada por uma das maiores estrelas do jazz norte-americano, Louis Armstrong. Gravou meia centena de discos. Mas como Mané, também desceu aos infernos. Às voltas com estranhas ameaças de morte, deixou o país. Foi morar em Milão. Voltou, continuou envolvida em casos estranhos e acabou jogada para escanteio. No ostracismo, ensaiou, em meados dos 80 uma volta por cima do samba. Participou da antológica "Língua", de Caetano Veloso, e fez um disco metido a moderno. Foi para os EUA, fez infindáveis plásticas, passou a usar expressões em inglês a cada frase. Patética? Talvez, mas só para os que não sabem ver a grandeza de Elza, a mulher que tem seu nome escrito na palavra beleza. Texto Anterior: A Cleópatra do pop Próximo Texto: Sons de céus e abismos Índice |
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