São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Verdes deixam 'flower power' e buscam poder na Alemanha

The Independent
de Londres

IMRE KARACS
DE BONN

Eles já foram os caras legais da política alemã, guardiões do "flower power" (poder da flor), casados com idéias radicais sobre salvar o planeta. Agora, são acusados do terrível crime de buscar a "política do poder pelo poder" -e pelos seus próprios membros, insatisfeitos com as mudanças.
A acusação foi feita pela parlamentar Vera Lengsfeld, que saiu do partido para se juntar aos democratas cristãos, chefes do governo federal, na semana passada.
Lengsfeld disse que os verdes estão se preparando para fazer um pacto no estilo de Fausto com os pós-comunistas da ex-Alemanha Oriental -uma decisão que ela, dissidente dos comunistas orientais, achou repugnante.
Mas, na verdade, os herdeiros de Petra Kelly há muito tempo abandonaram qualquer pretensão de tentar mudar o mundo sem participar dos governos.
O objetivo do "crescimento zero" -a estagnação econômica para poder preservar o meio ambiente- é uma memória distante. O pacifismo é um slogan hoje vazio.
Na sua conferência anual, no início do mês, os delegados do Partido Verde foram persuadidos a nem mesmo discutir os prós e contras do uso da "força militar como o último recurso contra a violência", e a maioria dos parlamentares verdes tem, desde então, apoiado a extensão do mandato dos soldados alemães na Bósnia.
A idéia de que "se tem quatro rodas, é ruim, se tem duas rodas, é bom" foi o que sobrou do sonho original, além da hostilidade ao poder nuclear e da promessa de um "imposto do meio ambiente" para os combustíveis.
Conveniência do carro
Mesmo esses pontos são sujeitos à negociação. As usinas nucleares não foram fechadas nos Estados em que os verdes tomaram o poder, os líderes do partido encontraram conveniência nos carros.
Agora eles dizem: "Se puder causar perda de empregos, o 'imposto do combustível' também não deve ser adotado".
O objetivo do partido é formar um governo com os social-democratas depois das próximas eleições, previstas para 1998 -um objetivo considerado pelo atual governo como uma receita para desemprego em massa e recessão.
Os democratas cristãos lançaram pôsteres mostrando máquinas cobertas por teias de aranha, paradas por causa da dupla formada pelos vermelhos, os social-democratas, e pelos verdes.
A notória tecnofobia e hostilidade a novas rodovias e extensões de aeroportos estão ameaçando a coalizão verde-vermelha no Estado industrial da Renânia do Norte-Vestfália (oeste).
Disputas
As disputas incessantes de gabinete no Estado acabaram com a credibilidade dos dois partidos.
Para melhorarem a sua imagem entre os trabalhadores braçais, os verdes têm cortejado os sindicatos.
"Nós temos mais em comum do que a crença de que um governo incompetente está no poder em Bonn", afirmou Dieter Schulte, presidente da confederação nacional de sindicatos, na conferência do Partido Verde. Foi a primeira vez que ele apareceu no local.
Então, eles estão crescendo e seguindo para a esquerda? Nem tanto. O principal problema continua sendo que a soma total de votos da aliança verde-vermelha é menor do que a votação que os dois partidos teriam em separado.
Segundo uma pesquisa publicada na semana passada, em separado, os verdes teriam 14% dos votos -duas vezes o que tiveram em 1994-, e os social-democratas conseguiriam 35% da votação.
Seria o suficiente para derrubar Helmut Kohl, mas as eleições reais mostraram que simpatizantes dos social-democratas votariam contra o próprio partido para manter os ambientalistas fora do governo.

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