São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Trinta meses de Real

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Nesta semana, o presidente Fernando Henrique Cardoso fez um balanço do Plano Real dizendo que, aos estadistas, cabe a tarefa de "assegurar a felicidade do povo. Os verdadeiros fins do trabalho dos governantes é chegar ao pleno emprego, ao bem-estar, à igualdade, à justiça e à liberdade".
"As forças de mercado", advertiu, "não têm nenhum valor em si mesmas. São apenas meios para se chegar aos fins superiores". Nesse campo, concluiu, "a principal missão do governante é criar condições para que o mercado funcione de maneira eficaz".
Não há dúvida de que a estabilização da moeda e a abertura da economia aperfeiçoaram o nosso mercado. Graças a isso os consumidores puderam comprar bens e serviços mais baratos e de melhor qualidade.
Mas não se pode esquecer que, por trás de tudo, estiveram os que cuidam dos "meios", aperfeiçoando suas técnicas, reduzindo seus lucros e produzindo a preços módicos desde o frango e o iogurte até o televisor e o automóvel.
Se mais não fizeram, é porque não tiveram condições de fazê-lo. O próprio presidente da República reconhece que o Brasil está deixando de aproveitar as inúmeras oportunidades que surgem no mercado mundial.
O mundo exporta atualmente cerca de US$ 5 trilhões anuais. É triste ver o Brasil exportando só US$ 50 bilhões -1% desse total.
É verdade, presidente: estamos desperdiçando a mais valiosa oportunidade de aumentar o emprego, melhorar o bem-estar, promover a igualdade, garantir a justiça e assegurar a liberdade dos brasileiros para, com isso, chegar à felicidade que todos almejam.
Em 1996, o Brasil mais importou do que exportou. Mas, dos US$ 37,5 bilhões importados nos primeiros dez meses do ano, mais de US$ 10 bi foram gastos com máquinas, aparelhos mecânicos, equipamentos, instrumentos de precisão, ferramentas, adubos e fertilizantes.
Ou seja, o Brasil se prepara para produzir mais. Mas só isso não será suficiente. Não basta produzir mais: é preciso exportar mais. Temos de dar uma grande virada. O ano de 1997 deveria ser um ponto de partida de uma nova era, durante a qual o Brasil venha a se firmar como uma campeão de importações e exportações simultaneamente.
As autoridades do governo (Executivo, Legislativo e Judiciário) têm pela frente a inadiável responsabilidade de criar condições para o Brasil dobrar as suas exportações em três ou quatro anos.
É inadmissível esterilizar a capacidade exportadora de um país por meio de custos exorbitantes nas áreas do transporte, energia, encargos sociais e os malfadados impostos em cascata.
Chegar à felicidade depende de eliminar esses desequilíbrios. E, nesse campo, a bola parece estar com o governo. A felicidade do seu povo dependerá muito de sua ação.

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