São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 1996
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A pirâmide e a máfia

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Se tivesse alguma dúvida sobre a nocividade do político na administração pública, bastaria analisar o caso de Pelé na semana passada. Não estou a par de suas atividades ministeriais, não me sinto em condições de opinar sobre ele como funcionário graduado da nação. Vai ver, e até que pode estar sendo uma excelente autoridade. Ou não.
O fato que destaco é sua desenvoltura em denunciar e demitir um esquema de corrupção em seu setor. Ele pôde fazer isso porque não é um político profissional, de carteirinha, não tem ou não faz vida partidária e encara a política com uma noção talvez primária -e nem precisa de mais.
Foi escolhido ministro por ser quem é, ex-jogador de futebol, que soube administrar sua carreira e hoje pode ser olhado e julgado sem a condescendência que dedicamos a nossos ídolos, aos deuses de nossos estádios.
Compare-se a sua atitude com a dos políticos que estão dirigindo o país. Dois escândalos recentíssimos agitaram a vida pública: a comissão de orçamento e, mais sórdido ainda, a lista entregando deputados em dívida para com o Banco do Brasil. O parlamentar suspeito de corrupção poderá até ser punido pois é político menor, afastado do centro do poder.
No primeiro caso, a motivação foi a mais comum e menos imoral: o dinheiro. No segundo caso, está havendo -como disse acima- a sordidez da política em todo o seu esplendor. Ministros, funcionários graduados, todos se perdoam e se sentem solidários para garantir a pior corporação da vida pública, que é a classe política em si.
A lista foi feita com a intenção de chantagear. Banditismo puro. O "capo", o grande chefe de todos os chefes seria (ou ainda será) o funcionário máximo que ocupa o topo da pirâmide política. Pirâmide que inteira mobilizou-se para impedir a fratura. Pirâmide integral, mantida pelo corporativismo copiado da máfia.

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