São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 1996 |
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Prática religiosa era proibida
CÉSAR SARTORELLI
Nadia Stepanova, 48, conta que sua família passou por grandes privações, seus pais não encontravam emprego e passavam fome. Eles tinham medo de sua vocação precoce, pois, desde menina, Nadia via espíritos, mas não sabia o que era aquilo e ninguém dizia. Um tio a iniciou aos 18 anos. Seus parentes realizavam ritos nos estábulos, longe de olhos delatores. Para eles, havia grande opressão. O xamanismo jamais deixou de ser parte do cotidiano da família. Ele mapeia lugares, "terras boas" (com bons fluidos) ou "ruins" (com maus fluidos), sagradas (de reverência e oferta) e energizadas (com energia vital). O senso do sagrado e do mágico é importante para os buriatos. Mesmo tornados minoria pela russificação, eles mantiveram seus cultos, menos os públicos, até a chegada da glasnost e da perestroika. A partir daí, retomaram com força o xamanismo, estudado nas universidades sem o desvio parapsicológico característico da era comunista, o qual era uma apropriação científica das práticas de cura. Já existe uma faculdade privada, a de Irina Urbanaieva (presidente do simpósio sobre a religião), que planeja cursos sobre xamanismo para estudiosos e praticantes. Algumas práticas foram perdidas, como os bonecos de feltro colorido usados como amuletos de proteção, apreciáveis só no museu do Centro Científico Buriato. A sensação ao chegar ao simpósio é a de ser recebido por pessoas orgulhosas do xamanismo, parte de sua identidade. Sua melhor tradução talvez tenha sido um discurso de despedida de Stepanova. "Eu não sou uma política, mas democracia é isso: vocês e nós juntos e livres, conversando e praticando o xamanismo. Viva a democracia!" (CS) Texto Anterior: Sibéria preserva pureza do xamanismo Próximo Texto: Religião comunga com budismo Índice |
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