São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rio-SP será o festival dos incompetentes

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, vi o sorteio dos jogos para o mal-assombrado Rio-SP.
O sorteio foi no programa do Sérgio Groisman, velho companheiro de arquibancadas.
O SBT parece ter entrado pra valer na disputa pelos direitos das transmissões de alguns dos principais torneios brasileiros.
Federações e clubes estão pedindo quantias fabulosas pela concessão de direitos.
Em contrapartida, as emissoras estão batendo todos os recordes nas vendas das suas cotas para transmissão de jogos de futebol, no ano da véspera da Copa da França.
Bem, até aqui, nada de mais. A televisão, no mundo inteiro, fatura cada vez mais com os eventos esportivos.
E as redes de TV, no mundo inteiro, devem competir para garantir a exclusividade nas transmissões desses eventos.
(Só que, ao contrário do que ocorre no Brasil, a concorrência deveria ser transparente, baseada apenas em capacidade de pagamento e capacidade de distribuição das imagens.
Por aqui, como se sabe, outros argumentos, que jamais poderão ser transparentes, entram na mesa de negociações).
E o Serginho Groisman conseguiu uma atração a mais para a moçadinha legal do seu ótimo programa.
O que não está certo é a televisão se juntar à irracionalidade administrativa do futebol para promover mais um simulacro de torneio, o torneio dos mortos vivos chamado Rio-São Paulo.
Incompetentes para formar times vencedores nas principais competições brasileiras de 96, os diretores dos times cariocas e paulistas (exceção à Portuguesa, que também está fora desse torneio espúrio) partem, mais uma vez, para a tentativa de obter dinheiro rápido e fácil, sem se preocupar com as consequências futuras das suas funestas gestões.
A visão estreita e imediatista que caracteriza a administração do futebol brasileiro não leva em conta que, a cada torneio extemporâneo que acrescentam ao já orgiástico calendário do futebol brasileiro, corresponde a uma debilitação na estrutura geral da modalidade no país.
Sanguessugas, vampiros, parasitas do futebol, não se importam com a elefantíase do calendário, ainda que ela redunde, na prática, na diminuição do interesse pelas partidas (e o declínio médio do público demonstra essa realidade à exaustão).
Também estão pouco ligando para o desgaste da matéria-prima, para a desvalorização do patrimônio humano, gerados pelo excesso de esforço que os jogadores são obrigados empregar em uma única temporada de futebol no Brasil.
Enquanto isso, times de outras regiões, menos pressionados pela voracidade da jogatina do Rio e de SP, podem fazer uma preparação adequada e mais racional, e conquistar melhor posicionamento nos grandes torneios nacionais.
O time que vencer este famigerado Rio-SP dará a sua torcida a ilusão de que está bem estruturado etc. Triste ilusão.
Está na hora de o torcedor-cidadão começar a dar uma basta a esses malversadores da fé esportiva pública.
Sinto que a sociedade brasileira está madura para começar a exigir mudanças no futebol. Chega de ser otário quieto.

Texto Anterior: 'Exclusividade' favorece Diniz
Próximo Texto: A foice e o martelo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.