São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
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A foice e o martelo

MELCHIADES FILHO

Pouca gente sabe, mas a NBA, hoje um cartão-postal do que há de mais lucrativo nos esportes, quase abrigou uma equipe socialista.
Na verdade, Hal Davis nem desconfiava o que ocorria, à época, na URSS pós-guerra.
Mas o empresário estava na pindaíba e, para amortizar os gastos com a criação de um time profissional (na época, US$ 75 mil), teve a idéia de repartir riscos e lucros com os verdadeiros donos do show.
Os atletas não receberiam salários. Bancariam as despesas de equipe. Em contrapartida, dividiriam o faturamento com os ingressos.
"Neste ano, não vai dar nem para comer. Mas, em três, teremos retorno -e nenhum intermediário vai tirar lasquinha", discursou Davis.
Assim, na temporada 48-49, nasceu o Denver Nuggets, o primeiro time profissional de basquete do Oeste dos EUA.
Em quadra, os Nuggets eram os mais disciplinados e raçudos da National Basketball League, rival da NBA.
Em vez de reclamar das substituições, os atletas pediam para sair quando cansados -afinal, não só o placar estava em jogo, mas seu próprio bolso.
Para economizar, todos tinham dupla função. O armador Ralph Bishop era técnico. O ala Jack Cotton, motorista. O armador Leonard Alterman, tesoureiro. O ala caolho (olho de vidro!) Mo Udall, que em 76 se lançaria à Presidência dos EUA, advogado.
Após 18 vitórias em 72 jogos, o sonho acabou a quinze dias do fim da temporada.
No ano seguinte, a NBL fechou, e os Nuggets venderam seu time para a NBA.
Ironia do destino, quase 50 anos depois, o Denver pode se tornar agora o primeiro apêndice de uma corporação de empresas na NBA.
À frente da ofensiva está a Nike, que encomendou estudos, calculou riscos e até já sondou os donos da franquia.

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