São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
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Crise no Peru caminha para um impasse

Sequestro entra no sétimo dia

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

As negociações entre o governo peruano e os guerrilheiros do MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) caminham para um impasse.
Os guerrilheiros, que ocupam desde terça-feira passada a casa do embaixador do Japão em Lima, afirmam que não libertarão os integrantes do governo que estão em seu poder enquanto não forem soltos dezenas de integrantes do MRTA que se encontram presos.
O presidente Alberto Fujimori, por sua vez, diz que não aceita a exigência dos guerrilheiros.
Em comunicados oficiais divulgados com uma diferença de 23 horas, Fujimori e os integrantes do MRTA se colocam em posições diametralmente opostas.
"A libertação dos que praticaram assassinatos e atentados terroristas é inaceitável", afirmou Fujimori em cadeia nacional de rádio e televisão às 22h42 de sábado (0h42 em Brasília).
No domingo, às 21h40, foi divulgado um comunicado do MRTA, no qual os guerrilheiros deixam clara sua posição: "A libertação das autoridades que permanecem conosco a partir de hoje só será possível se o governo libertar nossos militantes que estão em diversas prisões".
Cruz Vermelha
O comunicado fazia referência às cerca de 140 pessoas que ficaram na casa do embaixador do Japão depois da libertação de 225 reféns realizada na noite de domingo (madrugada de segunda no horário de Brasília).
No grupo que permaneceu com os guerrilheiros estão ministros, membros do Poder Judiciário, parlamentares e empresários (veja a lista no quadro abaixo).
O MRTA abriu exceção apenas aos embaixadores de países da América Latina e Ásia, cuja libertação não está descartada.
A avaliação que se faz em Lima é que se entrará agora em um longo processo de discussão, em que as posições de ambas as partes ficam cada vez mais intransigentes.
O chefe da Cruz Vermelha no Peru, Michael Minnig, tem um papel cada vez mais fundamental nas conversas entre o governo e os guerrilheiros.
Minnig foi o elo na negociação que possibilitou a libertação maciça de domingo à noite.
Carteiro
O porta-voz da Cruz Vermelha no Peru, Steven Anderson, disse à Folha que Minnig teve reuniões durante todo o dia de domingo para viabilizar a saída dos reféns.
"Ele funciona um pouco como um carteiro, que leva e traz mensagens", disse Anderson.
A entidade, segundo o porta-voz, vai continuar a intermediar as negociações entre os guerrilheiros e o governo peruano.
Anderson acredita que as conversas ainda não chegaram a um impasse, mas admite que a situação é mais grave.
"É claro que a cada dia é um pouco mais difícil. Esmos chegando ao centro do problema", disse.
Ontem, Minnig deveria voltar a se reunir com o ministro da Educação do Peru, Domingo Palermo, representante do governo nas negociações com os guerrilheiros.
Trabalho coletivo
Cerca de 20 membros da Cruz Vermelha estão envolvidos no trabalho de ajuda humanitária aos reféns na casa do embaixador.
Funcionários do órgão são os únicos que têm autorização para entrar na casa. Eles são os responsáveis pela entrega de comida, água, remédios, roupas e produtos de higiene. São também os que retiram o lixo do local.
Além disso, integrantes da Cruz Vermelha acompanham todas as libertações de reféns e, normalmente, são os primeiros a cumprimentar as pessoas libertadas.

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