São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Índice

Streisand se perde na exploração dos contrastes

MARIANE MORISAWA
DA REDAÇÃO

Depois de "Yentl" e "O Príncipe das Marés", Barbra Streisand ataca mais uma vez e protagoniza, dirige e produz "O Espelho Tem Duas Faces", que estréia hoje.
Streisand é popularíssima nos Estados Unidos, uma espécie de deusa viva. No Brasil, não alcançou tamanha fama, o que pode comprometer o interesse pela produção.
A atriz-cantora-diretora-produtora é Rose Morgan, uma professora de Literatura da Universidade de Columbia que vive encurralada entre a mãe Hannah (Lauren Bacall), ainda maravilhosa apesar do passar dos anos, e uma irmã devoradora de homens, Claire (Mimi Rodgers).
Ou seja, é o patinho feio da família e, como tal, sem esperanças de encontrar um amor. O que ela tinha, Alex (Pierce Brosnan), se casou com Claire.
Ele está cansado de seus relacionamentos baseados em sexo e, na sua opinião, o ideal é ter uma mulher por quem não sinta nenhuma atração física.
Gregory coloca um anúncio no jornal para tentar achar seu par. A irmã de Rose responde o anúncio por ela e, claro, a feiosinha é selecionada.
O professor decide que Rose é a mulher certa depois de assistir a um trecho de sua aula, em que ela explana sobre o porquê de as pessoas se apaixonarem. Gregory deixa a classe antes do final e acaba achando que a professora também acredita em relacionamentos sem paixão -mas Rose ama o romantismo.
Depois de confirmarem que há muito em comum entre eles -academicamente falando-, resolvem se casar e viver como irmãos celibatários.
E a comédia ganha seus momentos de graça. Gregory é chatíssimo e seus alunos querem fugir de suas aulas. Já Rose é simpática, sempre fazendo piada de si mesma, de sua feiúra, e muito popular entre seus alunos.
E é aí que notamos a capacidade de Barbra se fazer agradável e até mais bonita.
Lauren Bacall
Jeff Bridges está insuportavelmente chato, Barbra é OK -concorre ao Globo de Ouro, espécie de prévia do Oscar, de melhor atriz de comédia-, e Pierce Brosnan, apesar de bonito, sempre faz papel de paspalho.
Quem dá o show é a veterana Lauren Bacall, que mantém o ar glamouroso e arrasa como a megera e narcisista mãe de Rose.
O casal não se preocupa em fingir para agradar o outro, situação que parece ideal.
Um relacionamento como o pretendido por Gregory seria perfeito em tempos de Aids, não fosse o fato de ele ser impossível. Porque, segundo Rose, apesar do sofrimento da paixão, a sensação é muito boa para ser dispensada.
O filme se baseia todo nos contrastes. Beleza x atração física. Amor x amizade. Chato x simpática. Bonito x feia. Matemática x literatura. Humanas x Exatas.
"O Espelho Tem Duas Faces" acerta ao fazer piada das diferenças e até dos defeitos, a velha história de que o amor vence tudo etc.
Mas perde a mão principalmente no final, muito previsível e sem graça.
É óbvio que ninguém espera finais surpresa para comédias românticas, mas a coisa do patinho feio que vira cisne é por demais batida.

Filme: O Espelho Tem Duas Faces
Produção: EUA, 1996
Direção: Barbra Streisand
Com: Barbra Streisand, Jeff Bridges, Lauren Bacall, Mimi Rogers, Pierce Brosnan, George Segal
Quando: a partir de hoje, nos cines Belas Artes - sala Villa Lobos, Center Iguatemi 1, Metrópole, Studio Alvorada 2 e circuito

Texto Anterior: Oficina celebra Natal com Artaud
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.