São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 1996
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Oficina celebra Natal com Artaud

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Haverá apenas uma peça teatral em cartaz hoje (dia 25) em São Paulo.
"Para Acabar com o Juízo de Deus", do diretor, ator e teórico do teatro francês Antonin Artaud, será apresentado às 21h, no teatro Oficina.
"Artaud é natalino, ele é um renovador do teatro, celebra um tipo de renascimento", afirmou José Celso Martinez Corrêa, o diretor do grupo Uzyna Uzona, que apresenta a peça.
Um dos integrantes do grupo, Celso Sim, e o músico Pepê (que participa de "Bacantes", espetáculo mais recente do Uzyna Uzona) compuseram uma música sobre trecho do poema "Manhã", de Arthur Rimbaud, que integrará o espetáculo (leia o trecho do poema ao lado).
"Será um baião árabe, um canto do deserto, que é citado no texto do poema", afirmou Celso Sim.
O começo
O Uzyna Uzona batizou a música para a apresentação especial de "Natal na Terra", segundo Zé Celso.
"É o espetáculo que celebramos o bom ano de trabalho que tivemos. E também é o começo de algo novo. Artaud traz a consciência de que é necessário fazermos um trabalho de 'devuduzamento' neste momento de ditadura do mercado", disse o diretor.
"Para Acabar com o Juízo de Deus" é um espetáculo baseado em uma gravação para programa de rádio realizada pelo autor e diretor de teatro francês Antonin Artaud no ano de 1947.
Zé Celso encenou o texto pela primeira vez em setembro deste ano, durante a programação de celebração pelos cem anos de nascimento de Artaud.
"O Juízo de Deus" foi a última manifestação de Artaud em vida. A gravação radiofônica não chegou a ir ao ar porque o diretor de uma rádio estatal francesa proibiu sua veiculação.
Antonin Artaud baseou a gravação nos rituais de índios mexicanos, que presenciou durante em uma visita que fez ao México.
Paixão
Na montagem, Zé Celso utiliza as gravações originais de Artaud, que enfatiza o rito da abolição das cruzes, contra o símbolo do conquistador espanhol. "Artaud parece uma índia velha gritando", disse Zé Celso.
Artaud é conhecido como o teórico do Teatro da Crueldade, em que discute concepção e destruição, contrapondo valores materiais e espiritualidade para ultrapassar as paixões meramente humanas.
"Por isso ele propõe o renascimento", explica o diretor do Oficina.

Peça: Para Acabar com o Juízo de Deus
Quando: apresentação especial hoje, às 21h
Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, região central de São Paulo, tel. 011/606-2818)
Preço: R$ 20

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