São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 1996
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Londres aplaude 'Evita' e reabilita Madonna

MARIA CRISTINA FRIAS
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LONDRES

"Evita" é um musical por definição. Praticamente não tem diálogos e as canções não estão ali como complementos. Elas têm de carregar todo o peso do filme -narrativo e emocional. Uma situação confortável para Madonna.
No papel da senhora Perón, ela faz o que sempre soube: cantar. O que não diminui seu mérito. Ao contrário, a interpretação de Madonna surpreende. Mas, apesar de convencer como Evita, é difícil separar a pop star da personagem. A cantora declarou que o filme era o primeiro grande o suficiente para contê-la. Apesar de grandioso, ele não parece ser o bastante para ela.
A cada momento, nos distanciamos do filme para observar como Madonna dança tango, os trejeitos dela, para lembrar da época em que ela usou cabelos escuros como os de Evita...
Madonna é conhecida demais para permitir um mergulho completo na personagem. O que não é um problema, já que a história das duas traz algo em comum: ambiciosas, souberam usar público e mídia para se destacarem.
O filme abre com o funeral da primeira-dama argentina, em 1952. O choque que a divulgação da notícia provoca no povo, cenas grandiloquentes da multidão em luto. Corta para uma rápida passagem pela infância de Evita e a juventude dela, já na pele de Madonna. Morena, ela é a moça pobre que sonha em ir para Buenos Aires e fazer sucesso.
Antonio Banderas é Che. Como narrador, ele aparece em todos os lugares onde ela está, como personagens de diferentes classes sociais. É ele quem nos introduz na história, enquanto bebe num bar deserto durante o enterro de Evita.
Banderas canta diretamente para o público. Depois anda pelas ruas de Buenos Aires (em cenas gravadas em Budapeste, longe da hostilidade de alguns argentinos), no meio da multidão, onde ninguém parece capaz de vê-lo.
Che comenta a ascensão de Eva: seus relacionamentos com homens influentes para se tornar modelo e depois atriz conhecida. Até encontrar Perón, já presidente, num teatro, e bancar com ele uma moçoila "like a virgin".
Apesar da presença dissidente de Che, com seus comentários pseudocínicos, às vezes politicamente corretos, o filme cria uma atmosfera de glamour em torno do casal. Jonathan Pryce, que interpreta o presidente argentino, é simpático demais para um ditador.
A história do país, aliás, entra só como um pano de fundo, rapidíssimo. Turbulências políticas surgem na tela apenas naqueles segundos em que a música pede imagens mais fortes.
Um musical não pode prescindir da fantasia, de um certo distanciamento da realidade. Nessa categoria, como um divertimento, quase um vídeo de música pop, o filme de Alan Parker é dos melhores.
Tem cenas belíssimas, uma fotografia especial. E Madonna, cujo desempenho é em muito superior ao de Antonio Banderas. Sem ela, talvez o filme caísse na monotonia.
No final da primeira exibição para o público, em Londres, na sexta passada, muitas pessoas da platéia levantaram batendo palmas, como se estivesse num teatro. Tudo indica que, se a cantora estava numa fase meio em baixa da sua carreira, Alan Parker acaba de reabilitá-la.

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