São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CD-ROM faz pouco uso de informação

Versão parece livro com enfeites

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

A "Bíblia Sagrada" em CD-ROM, que a SeaFox e a editora Vozes lançaram é mais uma "Bíblia" a serviço da informática que um exemplo da informática a serviço da "Bíblia".
Visualmente agradável, eficaz para consultas e utilização dos vários recursos, o programa não vai muito além de uma "Bíblia" comum com alguns ornamentos. Parece uma adaptação para agradar micreiros. Ou para fazer leitores da Escritura se sentirem moderninhos.
O CD contém o texto completo do Antigo e do Novo Testamento.
Traz também notas de fácil consulta, 43 mapas, quadro cronológico e 300 fotos coloridas dos lugares ligados à história bíblica.
Números
A parte mais ornamental é composta de 120 reproduções de obras de Michelângelo e outros artistas renascentistas, 70 minutos de canto gregoriano e 48 narrações de trechos bíblicos.
Os números impressionam. Não há dúvida que as obras de Michelângelo, Ambrogio Lorenzetti e outros -inspiradas em algumas passagens bíblicas- são maravilhosas. O canto gregoriano é belo e meditativo. A Terra Santa é sempre comovente.
Mas a edição seria muito mais útil se pusesse à disposição do leitor e estudioso da "Bíblia", com a economia de espaço que só o CD-ROM permite, um pouco da imensa massa de conhecimento enciclopédico que se tem acumulado acerca da "Bíblia".
Pouca informação
A introdução, por exemplo, poderia ter muito mais informações sobre manuscritos bíblicos, traduções e sobre como a Igreja Católica escolheu os livros que escolheu para figurar na "Bíblia". Ou, ainda, o que é o conceito de livro inspirado (aquilo que caracteriza a "Bíblia").
Ao invés disso, o que se encontra é um alinhavado do velho populismo da Vozes, a editora que mais sofre a influência da teologia da libertação.
Pode-se ler, por exemplo, que "a Bíblia é como coco de casca dura". Ou que a "Bíblia nasceu da vontade do povo de ser fiel a Deus e a si mesmo".
Mesmo a parte dedicada à informação propriamente dita apresenta problemas.
Os mapas, por exemplo, feitos a partir de fotografias de mapas em papel, têm visibilidade ruim. Os produtores poderiam ter sido mais cuidadosos nesse aspecto.
Incertezas
O quadro cronológico, simples reprodução do que se encontra como apêndice numa boa edição da "Bíblia" em livro, omite as incertezas e as versões divergentes que os historiadores têm sobre as épocas da história bíblica.
O material resulta pouco crítico, no sentido acadêmico do termo. O estudioso, mesmo, continua sem a ajuda do CD. Pelo menos em português.

Texto Anterior: Confira a festa em português
Próximo Texto: Busca salva versão da Laicus
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.