São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 1996
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Greve na Argentina tem adesão parcial

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

A Argentina viveu ontem sua terceira greve geral do ano como uma prolongação do feriado de Natal, mas agora a perspectiva das centrais sindicais está em 1997 e nas futuras paralisações.
"O país vai ter um verão e um inverno muito quentes", anunciou Rodolfo Daer, secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho.
Outros sindicalistas foram mais precisos. "Em março ou abril pode haver uma greve por tempo indeterminado", afirmou Carlos West Ocampo, porta-voz da CGT.
Segundo o governo, 30% dos trabalhadores pararam ontem. Pelos cálculos dos sindicalistas, a paralisação atingiu 83% dos argentinos.
O nível de adesão caiu em relação às duas greves anteriores, em agosto e setembro, mas deve reacender o movimento sindical.
"A CGT errou ao optar, nos últimos meses, pelo diálogo com o governo. Acabou fracassando. Agora, devemos aprofundar nosso plano de luta contra o governo", afirmou Hugo Moyano, líder dos caminhoneiros e opositor à CGT.
O presidente Menem rompeu as conversações com a CGT na semana passada e assinou três decretos que reduzem o orçamento e o papel político dos sindicatos.
Isso fez a CGT anunciar, de sopetão, a greve geral, que contou com o opoio de sindicatos opositores.
A paralisação de ontem não deve fazer o governo voltar atrás na sua política de flexibilização das leis trabalhistas, por meio de projetos no Congresso ou por decreto.
O governo Menem também ameaça com o fechamento de dois novos sindicatos como represália ao protesto.
Pouco transporte
Além da data escolhida, o sucesso parcial da greve se deveu à paralisação dos transportes coletivos.
Em Buenos Aires, os trens urbanos e ônibus quase não circularam. O metrô trabalhou com 70% de sua capacidade.
Na área metropolitana de Buenos Aires aconteceram durante a madrugada 20 depredações de ônibus.
Como de costume, o governo veiculou números mais positivos (veja matéria nesta página).
Por outro lado, foram registrados congestionamentos nas principais avenidas da capital pelo excesso de carros.
Muitos comerciantes abriram suas lojas, mas o público era menor do que nos dias normais. Nos bancos, o cenário era similar. Só o estatal Banco de la Nación manteve suas portas fechadas.
Mais no interior
No interior do país a adesão ao protesto foi maior. Em Córdoba e Rosario, segunda e terceira maiores cidades do país, a adesão chegou a mais da metade dos trabalhadores do transporte, comércio e indústria.
O maior nível de adesão aconteceu nos serviços públicos. Só 10% dos empregados judiciais trabalharam ontem, o mesmo acontecendo na área da saúde.
Os hospitais só atenderam os casos de emergência, principalmente os feridos pelos fogos de artifício durante os festejos natalinos.
A aviação também foi afetada. Vários vôos das empresas Aerolíneas Argentinas e Austral não saíram (leia matéria nesta página). No aeroporto Jorge Newbery, só 15% dos funcionários se apresentaram para trabalhar.
As centrais sindicais não tinham programado manifestações públicas, mas elas aconteceram em algumas cidades.
Em Mendoza, um protesto acabou com vitrines de lojas depredadas e seis pessoas presas. Na cidade de Avellaneda, militantes de esquerda fecharam a ponte que une a cidade a Buenos Aires.

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