São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 1996
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O ENIGMA DO CONSUMO

O desempenho do comércio no Natal e mesmo ao longo do ano sugere um padrão: volumes altos, mas com margens de lucro reduzidas.
As avaliações da Federação do Comércio do Estado de São Paulo sobre a performance do setor no ano, por exemplo, indicam uma queda de 5% no faturamento. O volume de vendas, entretanto, teve alta de 3%. Ou seja, vende-se mais, fatura-se menos, o que significa que a lucratividade do negócio é menor.
Uma parcela dos consumidores preferiu saldar dívidas ou poupar. O volume de vendas supera em 10% as do ano passado, com faturamento apenas 6% maior. Vende-se mais, fatura-se relativamente menos.
A Federação do Comércio informa ainda que, com relação ao Natal, o faturamento deste ano ficou 10% abaixo do de 1994. Esse dado evidencia outro fenômeno: o Plano Real, como todos os planos de estabilização que o antecederam, gera um boom de consumo que perde força com o tempo, mesmo sendo um plano mais bem sucedido.
Mudam os fatores do enfraquecimento. No passado, a volta da inflação corroía o poder de compra. Agora é o endividamento acumulado, o temor do desemprego ou o atrativo de juros ainda elevados que atuam como freios ao consumo.
Mas há outras "leis econômicas" que parecem implícitas nos dados disponíveis. Assim, enquanto a Federação do Comércio revela que aumentou o volume sem que o faturamento o tenha acompanhado, grandes redes varejistas estão anunciando uma lucratividade recorde.
Isso sugere que tamanho é documento. A realidade média do setor varejista convive com outra, típica das grandes redes com escalas e condições de crédito privilegiadas.
O varejo é um setor heterogêneo. Os dados revelam que há muito já passou a euforia. Se o mercado é maior, as preferências dos consumidores ainda estão passando por importantes transformações. Quem compreendê-las melhor vencerá.

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