São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 1996
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MULHERES DE CHUTEIRAS

A Olimpíada de Atlanta foi de vital importância para uma modalidade esportiva que ainda tenta ganhar espaço no Brasil: o futebol feminino. O quarto lugar obtido pela equipe brasileira, que conquistou admiradores e a merecida atenção da mídia, permitiu que uma tradicional prática masculina começasse a ser aceita também como uma alternativa esportiva para as mulheres.
A realização, no próximo ano, do seu primeiro Campeonato Paulista revela que o futebol feminino tem um número suficiente de equipes e uma estrutura mínima para um torneio. Mas mostra principalmente que a modalidade está ganhando terreno mesmo tendo de lutar contra um forte machismo. No país, ainda é preponderante uma cultura que vê com restrições a existência de jogadoras de futebol, mas as transforma em estrelas se elas forem bonitas e também estiverem envolvidas com outras atividades, como a de modelo.
A participação das mulheres no esporte tem sido crescente nas últimas décadas, chegando hoje a modalidades consideradas violentas, como o boxe e o rúgbi. A grande dificuldade das praticantes sempre foi conquistar interesse sem que seu desempenho fosse comparado ao dos homens. Para muitos, as versões femininas de tênis, basquete ou atletismo ainda são competições de segunda categoria, ideais como preliminares para as atrações masculinas.
Para ter seu espaço próprio, o esporte feminino deve ser aceito com suas características. O vôlei feminino não é igual ao praticado pelos homens. Tem ritmo próprio, uma velocidade específica e uma força que, se é naturalmente menor que a dos atletas masculinos, na opinião de muitos admiradores facilita a realização de partidas mais competitivas.
O mesmo raciocínio deve ser aplicado ao futebol. Por sua condição física, os homens sempre serão mais rápidos, terão uma maior impulsão e chutes mais potentes. O desafio das mulheres de chuteiras é mostrar que praticam não uma simples concessão do mundo masculino, mas um esporte novo e diferente.

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