São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 1996
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Holandeses são mortos em Recife

FÁBIO GUIBU
VANDECK SANTIAGO

FÁBIO GUIBU; VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Dois primos que faziam turismo foram assassinados a tiros; polícia e consulado acreditam em assalto

Dois turistas holandeses foram assassinados em Recife (PE), anteontem à tarde, na favela do Coque, na área central da cidade.
O crime só foi confirmado ontem pela Secretaria Estadual da Segurança Pública e pelo Consulado da Holanda em Recife.
As vítimas são os primos Wilhelmus Adrianus Joannes van Kampen, 28, e Aloysius Theodorus Overtoom, 35. Eles receberam tiros de pistola e revólver.
Kampen, atingido por quatro tiros, morreu na hora. Overtoom teve o baço rompido por uma bala e morreu às 4h30 de ontem, depois de sofrer uma cirurgia.
Tanto a Polícia Civil como o consulado holandês acreditam que os dois tenham sido mortos durante um assalto, mas discordam quanto aos motivos que os levaram à favela. Para a polícia, os dois estavam na favela em busca de drogas.
O consulado contesta essa hipótese. Segundo o cônsul honorário no Estado, Weber Wanderley Lins, os turistas poderiam estar fotografando a população e o local quando chegaram os assaltantes.
Os holandeses haviam saído do hotel às 8h para andar pela cidade. A favela fica a apenas 3 km do local. Outra possibilidade é que os turistas tenham simplesmente se perdido no centro de Recife.
"Estão tentando esconder a falta de segurança na cidade", disse Lins. O secretário da Segurança Pública, Antonio Moraes, disse que "é normal" o cônsul tentar "amenizar" uma situação que envolve cidadãos de seu país.
"Não há turista estrangeiro que desconheça os riscos de entrar em uma favela", afirmou Moraes.
Segundo a polícia, os assassinos roubaram dos turistas máquinas fotográficas, óculos, relógios e US$ 5.000 em cheques de viagem.
Lei do silêncio
Os principais suspeitos do crime, segundo a polícia, são dois homens conhecidos como Henrique e André, foragidos do presídio Barreto Campelo.
"Nossos informantes na favela e as denúncias anônimas por telefone confirmam a participação deles", afirmou o secretário.
Na favela, os moradores negam-se a falar sobre o caso.
A gerente do hotel onde os holandeses estavam hospedados, Maura Marques, afirma que, aparentemente, os turistas eram preocupados com segurança. "Suas malas eram todas trancadas."
A gerente soube do crime por intermédio de funcionários do hospital. Antes de morrer, Overtoom mencionou o nome do hotel.
Na ficha de cadastro, os turistas informavam que vinham de Belo Horizonte e que pretendiam viajar para São Paulo.
A bagagem foi retirada pelo consulado, que também comunicou a morte à embaixada holandesa, em Brasília. Os corpos serão embalsamados e enviados à Holanda. Até a manhã de ontem, as famílias das vítimas não haviam sido avisadas das mortes, segundo o consulado.

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