São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 1996
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Quadrilhas usam fardas da PM e Exército na guerra do tráfico

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Os traficantes das favelas do Rio estão vestindo fardas da PM (Polícia Militar) e do Exército durante invasões contra redutos de quadrilhas inimigas.
O disfarce dos criminosos tem confundido os rivais que, pensando tratar-se de uma ocupação policial, evitam o confronto.
No último sábado, 50 homens vestidos com uniformes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da PM invadiram o morro do Andaraí (zona norte do Rio) na tentativa de conquistar os pontos de venda de cocaína e maconha comandados pelo traficante conhecido por Fabiano.
Entre os invasores havia homens vestidos com roupas camufladas do Exército.
A invasão ocorreu às 7h30. Os criminosos chefiados por Fabiano pensaram que os invasores eram policiais militares e decidiram não combatê-los.
Meinicke disse que os traficantes compram as fardas em lojas especializadas ou pagam para costureiros prepararem os uniformes.
"Infelizmente é assim. Se eu quiser me fantasiar de almirante, vou na loja e me fantasio. Eles (os traficantes) estão usando uniformes iguais aos nossos", afirmou o tenente-coronel.
Queimado vivo
Os moradores do morro do Andaraí viveram um sábado de pavor. A invasão dos falsos policiais militares resultou em tiroteio e morte.
Comandados por Marcelo Lucas da Silva, o Café, os invasores se aproveitarem do disfarce para conquistar as "bocas" de cocaína e maconha do Andaraí.
Os homens de Fabiano não reagiram, acreditando que eram policiais militares em operação no morro. Como Café já morou na favela, os invasores sabiam os esconderijos dos chefiados por Fabiano.
Os esconderijos foram invadidos. Um rapaz da quadrilha de Fabiano foi capturado, amarrado a uma poltrona deixada sobre a calçada e queimado vivo pelos invasores.
A ocupação dos pontos de Fabiano só não se consumou porque o verdadeiro Bope e a Polícia Civil foram até a favela, atraídos pela troca de tiros.
Novas tentativas
A previsão de policiais da 19ª DP (Delegacia de Polícia), na Tijuca, e 20ª DP, no Grajaú, é a de que até o fim do ano novas tentativas de invasão deverão ocorrer na favela.
"O Café já disse que quer passar o Ano Novo no Andaraí. Ele é aliado de favelas vizinhas, como Divinéia, Caçapava, Jamelão e Sá Vianna", declarou um detetive da 20ª DP que não quis ser identificado.
Desde sábado a PM tem feito incursões diárias no morro do Andaraí, na tentativa de prender Fabiano, Café e seus homens de confiança, identificados pelos apelidos de Cabarra e Lua.
Na terça-feira, policiais mataram dois supostos traficantes da favela. Um deles, conhecido por Sapinho, morreu na explosão de uma granada. O outro morto não havia sido identificado até o fim da tarde de ontem.

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