São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 1996
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ATRASO BANANAL

Há poucas semanas o diretor da área internacional do Banco Central, Gustavo Franco, ironizou os economistas que se preocupam com o atraso cambial usando a imagem do "atraso bananal".
A questão, entretanto, é levada a sério por outros integrantes da equipe econômica. A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, por exemplo, trouxe a público seus próprios cálculos para mostrar que houve desvalorização do real em 1996 (3,8% em relação a uma cesta de 13 moedas estrangeiras).
O estudo tem ainda o mérito de mostrar que o ritmo da desvalorização não foi o mesmo ao longo do ano. Até maio o real sofreu depreciação de 7,1%, comparado ao mesmo período de 95. De junho a novembro, a desvalorização foi de apenas 0,7%.
A discussão sobre "atraso cambial" naturalmente não se esgota com esse cálculo. A rigor o diretor do BC tem razão: como na física, as questões cambiais dependem também do referencial. Dependendo da inflação que se leva em conta, das moedas selecionadas e da data escolhida como base, os resultados variam. Aliás, o próprio Gustavo Franco tem escrito mais sobre "defasagens" e num artigo avaliou o cálculo de defasagem da Funcex.
Ocorre que a questão cambial está longe de ser meramente acadêmica ou econométrica. Coincidência ou não, exatamente quando o Ministério da Fazenda faz esse esforço para demonstrar o acerto da política cambial os mercados ficaram novamente nervosos diante de expectativas de piora na balança comercial.
O déficit (importações acima de exportações) poderia ficar, segundo rumores, em até US$ 2 bilhões no mês de dezembro. Os mercados futuros passaram a projetar desvalorizações cambiais mais intensas a partir do início do próximo ano.
Se a desvalorização cambial afinal de contas não for regular ou previsível, há espaço para apostas. E elas serão mais intensas quanto maior o desequilíbrio das contas externas.

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