São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sombras e luzes

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Gostei do artigo do Marcelo Coelho na Ilustrada do dia de Natal. Foi o melhor texto que li sobre as luzes que enfeitaram ruas, árvores e casas de quase todas as cidades brasileiras. Não importa que a mania, como as próprias lâmpadas coreanas ou chinesas, seja importada. Não aprecio Papai Noel, mas acho preferível o bom velhinho ao Vovô Índio ou ao Preto Véio que, em épocas diferentes, tentaram nos impor.
Houve quem visse, na decoração urbana deste ano, um sinal de agradecimento ao governo pelo sucesso no combate à inflação. Os mais exagerados serão capazes de jurar que houve um plebiscito sobre a reeleição e que a emenda já teve a aprovação das ruas iluminadas.
Nos anos 30, Orestes Barbosa escreveu alguns dos versos mais bonitos do nosso patrimônio popular naquela obra-prima que é "Chão de Estrelas". E lá ficou dito para sempre "que em nossos morros mal vestidos é sempre feriado nacional".
Somos um povo assanhado, herdamos esse defeito -que pode ser uma de nossas melhores qualidades- dos índios que ficaram assanhadíssimos quando viram, no horizonte, as caravelas portuguesas. Nos 21 anos de chumbo, quando era negra a repressão e onipresente o medo, tivemos alguns dos melhores carnavais de nossa história.
O presidente Médici enrolado na bandeira nacional não deu para esquecer o resto. Apesar disso, no breve espaço de um triunfo esportivo, aquela foto foi a melhor expressão da euforia dos 70 milhões em ação na Copa do tricampeonato. Quem viu mais do que isso, viu errado.
Marcelo Coelho coloca o problema das luzes (luz será mesmo problema?) na sua dimensão. De alguma forma, e independente do credo religioso, o Natal é um momento de infância. E nada como uma noite iluminada para recriar, em todos nós, a possibilidade (ou a esperança) do impossível que todos perseguimos.

Texto Anterior: Férias, público e privado
Próximo Texto: Perdoar de coração
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.