São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Férias, público e privado

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Volto de férias e constato o óbvio. Os temas polêmicos continuam idênticos. A frustrada venda do Banerj. A privatização da Vale do Rio Doce. O eterno debate sobre o que deve ser público e privado.
Vou até a garagem do meu prédio e colho um exemplo paroquial sobre essa discussão. Lá, encontro o meu velho Kadett 93, fruto da iniciativa privada, incapaz de dar partida. Bastaram quatro semanas para o bólido morrer por completo. Não se mexe.
Com apenas 33.000 km rodados, todas as revisões realizadas, não há motivo para um carro desses parar de andar. Além do mais, não se trata de um obsoleto modelo Lada soviético. É um Kadett, da GM -uma das maiores empresas privadas do planeta.
O velho Kadett só pegou no tranco. Levei-o até a CCA, uma concessionária autorizada da GM de Brasília.
O carro ficou pronto quatro dias depois. Valor da fatura: R$ 1.148,38. A concessionária, da iniciativa privada, trocou tudo: bateria, alternador etc.
No porta-luvas, olhando notas fiscais antigas, constatei que os meus gastos de manutenção do Kadett 93 somaram, nos últimos nove meses, R$ 2.120,42. Dinheiro que foi engordar a conta dos donos da CCA.
Foram consertos simples. O carro nunca foi batido. Qualquer um percebe que o valor é uma exorbitância da iniciativa privada.
Nessas contas também notei uma sabotagem ao Plano Real. Em março, a CCA cobrou R$ 12,00 para dar uma "carga de gás" no ar-condicionado. Agora, o mesmo serviço saiu por R$ 34,20. Um aumento de 185% -num ano em que a inflação será de 10%.
Isso não é tudo. Para piorar o choque da volta das férias, vale dizer que o carro quebrou de novo, logo ao sair do conserto. Justamente anteontem, quando voltava para o trabalho.
Essa história traz duas lições. Primeiro, que a iniciativa privada nem sempre é melhor que a estatal. Segundo, que a diversidade do mundo privado me dá uma vantagem: se algum dia trocar o carro, tentarei fugir da marca GM como o diabo foge da cruz.

Texto Anterior: Sobre JK e FHC
Próximo Texto: Sombras e luzes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.