São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
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Retrospectiva 1965

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Como sempre acontece nos últimos dias do ano, as emissoras de TV chacoalham seus bolsos em busca do que foi notícia entre um réveillon e outro. As revistas especializadas não ficam atrás e mostram em suas capas e páginas centrais o que os astros e estrelas vão vestir, como vão se pentear, o que vão comer e o que esperam para o próximo ano. Aqueles que, dentro de seus cérebros menores que as nozes que enfeitam o peru, acreditam que seu estrelato é um direito divino que caiu sobre suas cabeças, saem-se com bordões do tipo "um mundinho gostoso sem guerra" ou "união entre os povos", achando que o efeito dessas palavras saindo de suas gargantas privilegiadas é o suficiente para uma reunião extra na ONU. Os mais espertos, pedem renovação de contrato. Com razão. Os tempos mudaram. O controle remoto passa por mais canais do que sonhou Assis Chateaubriand e a competição por papéis é cada vez maior. Um desses deuses modernos que não emplacar um segundo Ano Novo não vai fazer falta. É só um a menos por atenção e audiência. A máquina de moer carne renova o elenco, enquanto se apóia em remakes. Em 1965, ainda se podia experimentar. A Excelsior abria o ano com uma milionária produção de "Onde Nasce a Ilusão", estrelada por Maria Helena Dias e Carlos Zara. A Tupi colocava em perigo a saúde física de Georgia Gomide, que tinha que fugir para não apanhar do público, como a malvada Tereza. Em plena comemoração do Quarto Centenário do Rio de Janeiro, o governador Carlos Lacerda vetava o projeto de erguer um busto em homenagem a Vicente Celestino. Wilson Simonal, no apogeu, declarava que o que mais o irritava era ouvir música mal tocada. Na Record, as crianças se empanturravam de bolo e milk shake no "Pullman Jr.", apresentado por Cidinha Campos. "The Clevers" mudavam o nome para "Os Incríveis", e Fernanda Montenegro anunciava sua volta ao "Grande Teatro", depois do nascimento de Fernanda Torres. Como em qualquer retrospectiva, também houveram desgraças, romances e separações: a compositora Dora Lopes se submeteu a uma série de operações plásticas por causa de um acidente de carro. E Renato Consorte passou meses na cama se recuperando de um desastre de avião. Iris Bruzzi se separava de Walter Pinto enquanto Débora Duarte e Juca de Oliveira ficavam oficialmente noivos. Roberto Orosco estrelava duas novelas simultaneamente na TV Cultura e Laura Cardoso deixava "Gutierritos" por problemas de saúde. No final daquele ano, muitos dos nomes que citei apareceram nas revistas da época ao lado de suas árvores de Natal. Alguns estão até hoje, graças a Deus, na ativa. Outros, cujos nomes nem lembramos, que se julgavam tão importantes quanto a Missa do Galo, sumiram na fumaça levantada pelos pés que correm na São Silvestre, o "show" de fim de ano mais tradicional da TV.

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