São Paulo, quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996
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Corpo de baile volta com 30 artistas a menos

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O corpo de baile do Teatro Municipal do Rio volta hoje ao trabalho, depois de um mês de férias, com a temporada de balé suspensa e 30 bailarinos a menos. Foram cancelados os contratos dos prestadores de serviços.
O anúncio do cancelamento foi feito em dezembro pelo presidente do Municipal, Emílio Kalil, quando o corpo de baile se recusou a ser avaliado por coreógrafos convidados e pelo novo diretor da companhia, o francês Jean Yves Lormeau.
Bailarinos estatutários e contratados conseguiram na Justiça uma liminar tornando a avaliação facultativa. Começou aí a crise que culminou com a suspensão da avaliação, o cancelamento da temporada de 96 e a rescisão dos contratos.
Na última segunda, os bailarinos foram ao teatro achando que as decisões de Kalil seriam reconsideradas, mas souberam que os contratos não valiam mais. Segundo Kalil, a rescisão foi ordem do governador Marcello Alencar.
"Eu estava tentando segurar os contratados porque eles eram importantes para a temporada. Como eles se recusaram a fazer o teste e não haverá temporada, não há razão para mantê-los", disse Kalil.
O corpo de baile fica agora com aproximadamente 50 bailarinos. O próprio Kalil diz que nem todos estão em condições de trabalho, seja por idade, seja por qualidade técnica e artística.
Entre os desempregados, está um dos primeiros bailarinos do Municipal, Marcelo Misailidis, 27, que dançou os principais papéis de espetáculos como "Giselle" e "Dom Quixote".
Misailidis disse que toda a história da avaliação foi mal-explicada e que a atitude de Kalil foi uma retaliação à recusa do corpo de baile. "Se soubéssemos que nossos contratos estavam ameaçados, teríamos feito o teste", afirmou.
Ana Quevedo, vice-presidente da Associação do Corpo de Baile, disse que a entidade procurará um advogado para orientar os bailarinos e garantir que os contratos sejam mantidos ao menos até o vencimento normal, em abril.
Na volta ao teatro, os bailarinos contratados encontraram também um comunicado de que o mês de fevereiro, normalmente de aulas e ensaios facultativos, terá aulas diárias.
"Tudo por causa de um teste ridículo, sem critério e sem necessidade", afirmou Ana Quevedo.
Kalil disse que a audição dos bailarinos é uma exigência comum dos coreógrafos das companhias de dança internacionais antes de negociarem qualquer montagem.
"Trouxe aqui gente da Fundação Balanchine, de Nova York, e da Ópera de Paris, e eles não podem mais voltar. Os espetáculos estão suspensos e no segundo semestre, quem sabe, poderemos retomar as atividades. O pior não é só o prejuízo das passagens, mas o prejuízo para a imagem do teatro", afirmou.

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