São Paulo, quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996
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Plus ça change...

"Plus c'est la même chose". Essa expressão francesa cabe como uma luva para descrever a "mudança" na política cambial. O que parece mudar muito é, na prática, só a repetição exaustiva da mesma coisa.
O terceiro deslocamento da banda cambial tem o mérito de afastar de vez o que muitos consideravam uma barreira psicológica, a cotação um para um entre real e dólar. Mas não significa nenhum compromisso do governo com uma regra clara para a evolução da taxa de câmbio nos próximos meses.
Assim tem sido desde março do ano passado. A "regra" cambial é afinal exatamente não seguir uma regra clara, evitando tanto o exagero inicial do Plano Real (a valorização da moeda) quanto o vício antigo de simplesmente corrigir o câmbio de acordo com a variação dos preços ao consumidor.
Nem indexação, nem congelamento, a política cambial move-se segundo uma lógica que, apesar das insistentes declarações do diretor do Banco Central, Gustavo Franco, não é o mero reflexo das forças de mercado. É, fundamentalmente, a expressão do poder de arbítrio de um Banco Central que, à custa de uma política de juros "escorchantes", registra uma acumulação sem precedentes de reservas internacionais em seu caixa.
Nada muda, portanto: seja por meio de uma atuação informal, advertindo os "dealers" do mercado cambial quando julga necessário, seja por leilões formais que definem os parâmetros da flutuação diária da taxa de câmbio, o Banco Central pilota o Plano Real tendo os juros altos e o deslizamento cambial como principais instrumentos.
A dúvida, que já existia e continua no ar, é se haverá ao longo dos próximos meses oportunidade para reduzir com maior velocidade os juros e desvalorizar mais rapidamente o câmbio. Aí sim poder-se-ia falar em autêntica mudança de orientação na política econômica.
O governo, por enquanto, parece inebriado demais com os sucessos de curto prazo para admitir o que seria uma mudança efetiva no desenho da política de estabilização.

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