São Paulo, quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996
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Um banco de desenvolvimento para o Nordeste

ROSEANA SARNEY

Em recente reunião em João Pessoa, para tratar de assuntos relativos às dívidas dos Estados, lancei a idéia da fusão dos bancos estaduais no Nordeste.
Quais os fundamentos dessa idéia?
Em primeiro lugar, há muito esses bancos deixaram de cumprir seu papel de agentes financeiros do desenvolvimento dos seus Estados.
Hoje eles têm se limitado às operações relativas aos recursos dos tesouros estaduais (pagamento da folha de salários dos servidores públicos, dos fornecedores de bens e serviços, financiamentos aos funcionários públicos com desconto no contracheque e como agentes financeiros dos programas de incentivos fiscais com recursos do ICMS).
As carteiras de desenvolvimento foram assumidas por outras instituições financeiras (BNDES, Banco do Nordeste, por meio do Fundo Constitucional do Nordeste) que, por meio de convênios, repassam recursos de investimentos para os bancos privados. Muitas vezes, diante da conjuntura difícil por que passa a economia, os bancos estaduais se recusam, inclusive, a assumir o risco de crédito dessas operações de repasse.
Em segundo lugar, o novo modelo que se desenha para o setor público transfere a operação de muitos dos serviços que anteriormente eram executados pelos Estados para as empresas privadas, por meio dos mecanismos de privatizações, concessões de exploração e terceirizações, permitindo um melhor atendimento aos usuários em áreas onde a iniciativa privada já se mostrou muito mais eficiente. Se os bancos estaduais operam como simples bancos comerciais, eles perdem muito da sua finalidade e eficiência.
Por último, a fusão dos bancos estaduais e do Banco do Nordeste em um único banco daria a todos os Estados uma instituição financeira poderosa (quase mil agências, R$ 20 bilhões de ativos totais, R$ 1 bilhão de patrimônio líquido) e sadia, pois poderia utilizar-se, para saneamento do seu passivo, das mesmas condições de financiamento (Proer) oferecidas pelo Banco Central quando da fusão Unibanco/Nacional. Sua operação se faria em duas grandes divisões: uma, comercial, a outra, de investimentos.
Teríamos um verdadeiro banco de desenvolvimento voltado para o financiamento dos projetos de infra-estrutura da região, com um grande poder de alavancagem de recursos e apto a operar como indutor dos programas para os setores de alimentos, turismo, agroindústria, pesca, siderurgia, metalurgia, mineração, química e petroquímica, madeira, papel e celulose, têxteis, construção, além de operar uma grande carteira de câmbio para dar suporte às crescentes operações de exportação e importação da região.
Essas as razões. Discutamos.

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