São Paulo, quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Índice

Uso indevido; Visão lúcida; Corinho; Nada para a terra; Cumprimento; Indignação; Postura preocupante

Uso indevido
"A reportagem 'Eleição faz governo perder controle do cofre', com o subtítulo 'Relator do Orçamento prevê déficit de R$ 10 bi em 96; ele e Serra acham que campanha dificulta corte de gastos', publicada na edição de 27 de janeiro, utiliza de forma indevida o nome do ministro do Planejamento, José Serra, e desinforma os leitores. Ao contrário do que o texto sugere, em nenhum momento o ministro conversou com o relator da Comissão de Orçamento, deputado Iberê Ferreira, a respeito dos efeitos das eleições municipais de 1996 sobre os gastos federais. Nem tampouco concordaria com os números sobre o déficit que as repórteres atribuem ao deputado. Numa certa altura da reportagem as jornalistas afirmam que José Serra 'já popularizou a teoria de que em ano eleitoral fica mais difícil cortar gastos'. Provavelmente as repórteres recorreram (e de forma imprecisa) a uma consideração feita pelo ministro em conferência na Câmara dos Deputados, no ano passado, dizendo que os anos eleitorais ensejam políticas fiscais expansivas. Ora, utilizar essa consideração para insinuar que em 1996 o ministro prevê dificuldades para o controle do déficit por causa das eleições municipais é um procedimento ilegítimo, pois deixa as palavras do ministro fora de contexto. É certo que em qualquer país democrático anos eleitorais induzem a políticas fiscais mais expansivas, porém os resultados concretos dependerão da maior ou menor firmeza dos governos e da abrangência das eleições. No caso deste ano, o presidente FH e os ministros do Planejamento e da Fazenda já reafirmaram que não promoverão políticas expansivas. Isso foi registrado pelos jornais, por exemplo, no dia 25 de janeiro, a partir de uma entrevista coletiva do ministro Serra em São Paulo. Além disso, as eleições de 1996 são muito menos abrangentes do que, por exemplo, as de 1994. Imaginar que o governo Fernando Henrique iria elevar suas despesas reais em pessoal, benefícios previdenciários e juros (que foram os três fatores do déficit federal em 1995) por causa das eleições municipais é despropositado, como seria também supor que os investimentos federais nos municípios, com recursos do Orçamento da União, pudessem atingir números expressivos do ponto de vista do volume total do gasto federal. Esclareço que, embora procurado por uma das repórteres da Folha, o ministro não falou sobre o assunto. O correto, nesse caso, como recomenda o manual da Folha, seria esclarecer aos leitores que o ministro não emitiu sua opinião. Em vez desse esclarecimento, a reportagem parece ter preferido, mesmo inadvertidamente, mediante título, subtítulo e uma sucessão confusa de parágrafos, sugerir aos leitores que o ministro foi ouvido e que ele e o relator pensam a mesma coisa sobre a provável evolução dos gastos públicos em 1996 (se é que o relator tem mesmo a opinião retratada na reportagem)."
Inácio Muzzi, coordenador de Comunicação Social do Ministério do Planejamento e Orçamento (Brasília, DF)

Resposta da jornalista Marta Salomon - Em nenhum momento a reportagem atribui ao ministro José Serra a previsão de déficit de R$ 10 bilhões nas contas públicas em 1996, feita pelo relator do Orçamento, deputado Iberê Ferreira. Ao contrário, a reportagem cita o ministro como autor da previsão oficial de "déficit zero", considerada irrealista por técnicos da área econômica ouvidos pela Folha. A avaliação de Serra de que é mais difícil cortar gastos em ano eleitoral foi transmitida à Folha pela sua assessoria.

Visão lúcida
"Saramago não merece apenas o prêmio Camões, afinal a clareza de suas frases em apenas dois dias de Brasil -'O único progresso verdadeiro é o progresso moral. O resto é simplesmente ter mais ou menos bens'; 'A IURD é uma quadrilha que se dedica ao roubo'- encerram conhecimento, bom senso e uma visão lúcida da nossa realidade. É bom não esquecer que ele veio falar sobre a cegueira da razão."
Jurilande Aragão Silva (Rio Branco, AC)

Corinho
"Êi, êi, êi, Rainha é nosso rei! (bis, bis, bis, até encher o saco 'delles'...)."
Carlito Maia (São Paulo, SP)

Nada para a terra
"A preocupação deste governo com a preservação da terra (parques nacionais), com os filhos da terra (demarcação de terras indígenas), com os sem-terra (reforma agrária) e com os frutos da terra (agricultura) é zero. Quem viaja muito acaba não conhecendo a própria terra. Zero, FHC!"
Jurcy Querido Moreira (Guaratinguetá, SP)

Cumprimento
"Sinto-me forçado neste trabalho: 'Trabalhos forçados' às vezes nos agradam... Com prazer laborei estas linhas após a leitura de 'Trabalhos forçados'. Gostei do artigo assinado pelo sr. Otavio Frias Filho em 18/1. Nota-se facilmente que o destino do sr. Frias é maior que sua vida. Parabéns!"
Luiz Gonzaga da Silva (Santo André, SP)

Indignação
"Em resposta ao editor Thomas Bussius (26/1) que classificou de mau humor a minha crítica à Folha pelo excesso de publicação de fotos de FHC, eu pergunto: qual é a importância da informação na foto de FHC gesticulando na primeira entrevista que faz à imprensa (18/1)? A minha alusão ao papel da D. Ruth pode ser exemplificada na recente 'D. Ruth se despede na Base Aérea de Brasília de estudantes que vão trabalhar em regiões pobres do país...' (19/1). Eu me pergunto se não seria muito melhor mostrar quem está indo voluntariamente trabalhar duro pelo país. A minha indignação pode ser a de ver a fotografia sendo usada como louvação a quem não está fazendo mais do que a sua obrigação."
Sílvia de Souza (Goiânia, GO)

Postura preocupante
"Preocupante a postura da Folha na questão relativa ao decreto 1.775, que abre a possibilidade para a revisão de demarcações em terras indígenas. A princípio tive a impressão de que veladamente a possibilidade de mudanças agradava à Folha, mas sua imagem pública de isenção e ética impedia um apoio explícito. A edição de 16/1 deu origem às certezas. A primeira evidência foi dada no 'Painel do Leitor', onde Carlos Alberto Ricardo, secretário-executivo do Isa, protesta contra a manipulação de suas palavras na edição de 13/1. A segunda evidência ficou explícita no editorial 'Nem 8, nem 80' (16/1). As palavras em nada se relacionam ao título, que sugere uma atitude equilibrada e democrática e, sobretudo, que respeite a Constituição. Como pode o editorial afirmar que 'seria lastimável que as grandes e ricas extensões de terra ficassem desnecessariamente relegadas à improdutividade'? Como ao mesmo tempo tomar como base para as demarcações um etnocêntrico conceito de reprodução econômica, que até nos parâmetros de nossa cultura é discutível, pois tem base em interesses nem sempre nobres, e respeitar a Constituição que reconhece o respeito aos bens, terras e organização social das diferentes comunidades indígenas? Lastimável..."
Edson Martins Junior (São Paulo, SP)

Texto Anterior: Microcrise, macroavanços
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.