São Paulo, quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996
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Os artistas e o mercado

Vem sendo fomentada uma obstinada polêmica em torno dos cachês pagos a artistas do show em homenagem a Tom Jobim, no Rio. Para uns, é inaceitável a desigualdade nas remunerações. Para outros, os gastos foram abusivos. Um juiz da 4ª Vara da Fazenda estadual, aparentemente acometido pela síndrome do holofote, determinou que os cantores declarem à Justiça o que receberam em shows nos últimos seis meses -decisão suspensa posteriormente por liminar.
O mal-estar após a divulgação dos valores pagos chegou ao Amazonas. Entidades civis anunciam ação popular contra o Estado por suposto superfaturamento no cachê prometido ao tenor José Carreras, no centenário do Teatro Amazonas.
A patrulha licitatória parece desconhecer que, para artistas de notória reputação, a lei dispensa concorrência. Além disso, a celeuma perde-se em meio à investigação das razões pelas quais um dos cantores do réveillon teria recebido cachê inferior ao dos outros. Ora, as leis de mercado vigoram também no mundo artístico, e a cotação de shows está sujeita às oscilações de demanda. O cachê de Carreras em 90 era de US$ 500 mil e agora, dizem, pode ser de R$ 800 mil, o que parece um gasto excessivo para um Estado pobre como o Amazonas.
Outra questão é, pois, saber se os governos devem contribuir para o custeio de shows. Considerando a escassez das verbas oficiais e a tentadora chance de promoção pessoal dos governantes por meio desses eventos, tudo indica que a participação do poder público precisaria se limitar a casos excepcionais.

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