São Paulo, quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996
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Passo em falso

CLÓVIS ROSSI

DAVOS - Considerado mestre em política externa, o presidente Fernando Henrique Cardoso está dando um passo em falso ao não comparecer ao Fórum Econômico Mundial, cuja 26ª edição abre hoje em Davos, cidadezinha encravada nos Alpes suíços.
O Fórum é chamado de "a cúpula das cúpulas", pretensão que tem certo cabimento: anualmente, no final de janeiro, Davos reúne a maior coleção de personalidades que o mundo consegue pôr ao mesmo tempo no mesmo local (no caso, o Kongresszentrum).
É justamente o tipo de audiência que infla, se necessário fosse, a vaidade de FHC. Boa parte dos "newsmakers" do planeta estão presentes, atraindo obviamente quilos de jornalistas, que preparam as "news" (notícias) que eles "make" (fazem).
No ano passado, o Fórum foi dominado pela crise mexicana, então no seu primeiro mês. Desde então o Brasil cuidou de deixar claro que não era o México. Nada melhor do que Davos para passar a mensagem ao vivo e em cores para quase mil empresários cujas empresas movimentam, ao ano, algo em torno de US$ 4 trilhões.
Por mais que a crise mexicana tenha arrefecido, desde então, a desconfiança persiste e é até mensurável. O fluxo de capital privado para a América Latina caiu, em 1995, para US$ 36,9 bilhões contra os US$ 60,5 bilhões de 1994.
No caso do Brasil, o investimento direto, o que mais interessa, porque cria riquezas, caiu pouquinho, mas caiu (de US$ 3,1 bilhões em 94 para US$ 3 bilhões no ano passado).
Pois bem: o Fórum de Davos marcou sessões especificamente para discutir o que chamou de "redespertar" da América Latina. Virão os presidentes Ernesto Zedillo (México), Carlos Menem (Argentina), Eduardo Frei (Chile) e Alberto Fujimori (Peru).
FHC confirmou a vinda, inicialmente, mas cancelou-a depois. É verdade que manda Pedro Malan, o titular da Fazenda, que é um craque na função de expor a situação econômica brasileira para o público externo.
Mas, nesta Davos vestida de branco pela neve (até pouca, este ano, aliás), ministros não são páreo para o volume de celebridades que sempre vêm.

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