São Paulo, quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996
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Violência, álcool e sexo marcam história

DAVID DREW ZINGG
DO ENVIADO ESPECIAL AO REINO UNIDO

A história dos primórdios de Cambridge é um pouco escassa, em se tratando de uma importante cidade universitária.
Dependendo de quem você lê ou com quem você conversa, havia um povoado esparso às margens do rio Cam desde os tempos dos antigos romanos.
A ponte, que dá seu nome à cidade -Cam, rio, mais bridge, ponte- foi erguida pelos saxões no século 7 -ou 8, ou mesmo 9, dependendo de quem estiver bebendo com você.
Os saxões chamavam o rio de Granta, e a cidade de Grantanbryege. Os invasores normandos a batizaram Granebrigge, e o velho poeta inglês Chaucer chegou mais perto do nome atual quando a chamou de Cantebrigge.
Como já sabemos, os primeiros estudantes de Cambridge eram fugitivos da violência entre "town" e "gown" em Oxford.
Os alunos temerosos trouxeram consigo não apenas a sede do conhecimento, mas também facas, paus e uma atitude agressiva.
Os conflitos se multiplicaram também em Cambridge. Em um determinado momento, o todo-poderoso chanceler (reitor) da universidade chegou a excomungar o prefeito da cidade.
Em 1068 Guilherme, o Conquistador (normando que conquistara a Inglaterra dois anos antes), fez uma parada em Cambridge e mandou erguer um castelo.
Ele foi demolido em 1842, e a única coisa que sobrou para você visitar atualmente é um grande monte de pedras.
Na Idade Média, Cambridge já atraía estudantes de todos os cantos da Europa. Esses alunos perambulavam de uma universidade a outra, em busca dos mestres mais famosos.
Provavelmente, o maior erudito do Renascimento foi o pensador holandês Erasmo de Roterdã. Ele lecionou em Queens' College entre 1510 e 1513.
Erasmo não gostava do alto custo de vida em Cambridge, mas apreciava as donzelas locais.
O filósofo as considerava "divinamente belas, ternas, agradáveis, gentis e tão encantadoras quanto as Musas".
No século 16, Cambridge se tornou centro do protestantismo da Reforma. Muitos de seus estudantes foram queimados vivos por defenderem suas idéias religiosas, inovadoras para a época.
Durante boa parte do século, a cidade foi palco de batalhas campais entre os protestantes e os papistas -como os protestantes designavam os católicos, de forma pejorativa.
Um século mais tarde, Cambridge voltou a viver uma divisão -dessa vez entre os habitantes da cidade (que defendiam o antimonarquista Oliver Cromwell) e os alunos e docentes (que apoiavam o rei, apesar de Cromwell ter estudado em Cambridge).
Aqueles também foram tempos de grandes realizações intelectuais. Isaac Newton, o homem que descobriu a lei da gravidade, viveu e trabalhou no Trinity College, na universidade local.
O século 18 marcou o ponto mais baixo da história de Cambridge. Foi a época em que os estudos focalizavam principalmente a bebida, os jogos de azar e o sexo. O novo esporte da política partidária consumia as energias da Inglaterra.
A própria universidade se viu passando muito mais tempo fazendo propaganda dos novos poderes públicos em Londres do que ensinando.
Cambridge se transformou numa confusão desencorajadora, que oferecia pouca inspiração ao estudante sério.
O poeta inglês Samuel Taylor Coleridge veio estudar no Jesus College. Ele comentou: "Em Cambridge, a cidade é fértil em vielas, lama, gatos e cachorros, além de homens, mulheres, corvos, bedéis, corujas e outros tipos de gado de duas patas."
Modernidade
A universidade sempre considerou que a melhor maneira de aguçar uma mente jovem era por meio do estudo da matemática.
Agora, confrontada com o ímpeto crescente do conhecimento moderno, Cambridge começou a investir na construção de grandes laboratórios de ciência, tanto aplicada quanto teórica.
Prêmios Nobel foram conquistados repetidas vezes por estudantes formados em Cambridge ou que haviam sido alunos visitantes.
Como já fez tantas vezes no decorrer de sua longa história, Cambridge mais uma vez se adapta aos ventos da transformação.

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