São Paulo, sexta-feira, 2 de fevereiro de 1996
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Nova banda é correta

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.
ARTICULISTA DA FOLHA

A mudança na banda cambial anunciada pelo governo é correta. Havia problemas sérios que vinham se agravando e resolveu-se agir.
Que problemas eram esses? Primeiro, é o atraso cambial em si. O governo vinha adiando a correção do câmbio usando, como instrumento, uma taxa de juros reais lunática.
Mas as consequências disso são ruins. Primeiro, cai o nível de consumo e os produtos que precisam de mais capital de giro ficam mais caros. Segundo, deteriora-se a saúde das empresas que se vêem, com o tempo, obrigadas a renegarem suas dívidas. Terceiro, em ritmo lento, mas inexorável, o ativo dos bancos vai "micando".
Paralelamente, os juros na lua atuam perversamente sobre as contas do governo federal, Estados e municípios.
O segundo problema é que, para manter o câmbio em um nível irreal, o governo vinha provocando danos à economia. Com os juros na lua, a economia não pode crescer. Em artigo publicado na Folha, em 16 de janeiro, disse que isto é como dar um tiro no pé.
O terceiro problema é que as exportações brasileiras teriam um comportamento medíocre em 1996. Isto forçaria o governo, mais à frente, a desvalorizar o real. Era uma questão de tempo para que começasse um movimento especulativo com o câmbio. A ampliação da banda cambial esvazia uma bolha especulativa.
A mudança é suficiente? O governo aplicou um medicamento no paciente que estava piorando. Será preciso observar, por alguns meses, a reação das exportações. Estas precisam crescer de forma saudável. Se não, virá outra desvalorização.
Uma meta desejável para a balança comercial de 1996 é que ela seja nula. Isto nos deixaria com um déficit em conta corrente de US$ 12 bilhões, facilmente financiável. O investimento estrangeiro direto deverá ser de US$ 6 bilhões em 1996. Os outros US$ 6 bilhões podem ser retirados das reservas, o que eu recomendaria, ou obtidos com a venda de papéis no exterior.
A decisão de mexer no câmbio agora foi correta e evita que o governo tivesse que fazer isso sob condições desfavoráveis.

ÁLVARO A. ZINI JR., 42, é professor titular da FEA-USP e autor do livro "Taxa de Câmbio e Política Cambial no Brasil", Edusp, 1993.

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