São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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Empresa de saúde doa R$ 10 mil por mês para pesquisa biomédica

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um ex-aluno de uma universidade resolve, anos depois de ter se formado e se tornado um empresário bem-sucedido, fazer um convênio com a antiga escola para melhorar sua infra-estrutura. Algo comum nos EUA, é raro no Brasil.
O exemplo foi dado por Ayres da Cunha, médico formado em 1963 pela Faculdade de Medicina da USP, hoje presidente da Blue Life, empresa de seguros de saúde, e deputado federal (PFL-SP).
O beneficiário foi o Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biomédicas, chefiado por um colega de turma de Cunha, que optou pela vida acadêmica, o especialista em neurofisiologia Núbio Negrão.
O cronograma do convênio, feito entre a Blue Life e a Fundação USP, prevê 36 meses de repasse de verba para o departamento. São dez mil reais por mês que têm significado a diferença entre um trabalho de pesquisa confortável e a luta com instalações precárias.
O grande problema que o convênio resolveu, algo praticamente impensável em um laboratório da área de biomédicas, era a péssima qualidade da água. Para poder trabalhar os cientistas tinham que gastar parte de sua verba com filtragem. "Nosso gasto com filtros era excessivo", diz Negrão.
O convênio também permitiu interligar todos os pesquisadores em uma rede de computadores. "A economia de papel foi grande", diz o chefe do departamento.
Outra utilidade da verba é a possibilidade de comprar material de consumo ou consertar equipamentos com mais rapidez. Em ciência moderna, é essa agilidade que permite a um grupo de pesquisa produzir um trabalho antes de seus concorrentes.
O que ganha a Blue Life? Por enquanto, apenas uma melhoria de imagem. "Os planos de saúde têm essa imagem de exploração, de que não dão retornos à comunidade", diz Ayres da Cunha; "nós patrocinamos shows e futebol, patrocinar a pesquisa científica é uma obrigação".
Ele acha que a universidade não está preparada para colaborar mais intensamente com as empresas, pois faz muita pesquisa teórica. "Essa é uma crítica construtiva, nós queremos que o intercâmbio aumente", afirma o empresário e deputado. "Aperfeiçoando a formação dos nossos médicos, por exemplo", acrescenta.

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