São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dinheiro público mantém ensino francês

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

O Estado financia o ensino superior na França. Cerca de 93% dos estudantes do país estão em escolas públicas e a iniciativa privada contribui com 5% das despesas.
Além de manter as universidades, até mesmo algumas privadas, o Estado gasta metade do orçamento da educação universitária em bolsas e auxílios diversos.
Paga também moradias, dá descontos de impostos e paga até para ajudar estudantes repetentes.
Todos os estudantes que passam no exame de fim de curso de segundo grau, o "baccalauréat", têm direito a entrar na universidade (cerca de 476 mil no ano passado, 75% dos secundaristas que prestaram o exame). Nas "Grandes Écoles", a elite do sistema universitário, há um exame de admissão.
Os universitários pagam uma taxa de matrícula. Para o primeiro ciclo de estudos, ela é de no máximo US$ 400.
O Ministério da Educação Nacional, Ensino Superior e Pesquisa gastou, em 95, o equivalente a US$ 8,5 bilhões com o ensino superior. Cerca de 40% desse dinheiro foi destinado diretamente a auxílios aos estudantes.
Cerca de 378 mil deles (existem cerca de 2,15 milhões de universitários na França) recebem bolsas de estudo (todas pagas pelo Estado), que levam 30% da verba de auxílios.
Outros 30% vão para a assistência à moradia e mais 30% entram na conta do ministério como deduções fiscais para as famílias dos estudantes.
Cerca US$ 24 milhões por ano são destinados apenas a ajudar financeiramente estudantes repetentes e os que queiram mudar de carreira.
O dinheiro que chega às universidades é administrado livre e autonomamente pelos Conselhos de Administração de cada instituição.
Falência
Apesar do caráter quase que totalmente público, do acesso universal e das enormes verbas dedicadas a auxílios, o sistema é desigual e está à beira da falência.
Entre o final do ano passado e começo deste, algumas universidades chegaram a ficar paradas por oito semanas devido a greves de estudantes e professores.
O movimento começou nas "universidades pobres", como a de Rouen, no norte da França, onde salas de aula têm capacidade de acolher apenas um terço dos estudantes.
O protesto acabou se estendo por todas as universidades públicas francesas. As reivindicações: mais verbas, mais professores.
O Estado diz que não tem mais onde buscá-las (e o ministério da Educação foi o único a não sofrer cortes orçamentários para 1996).
Recursos
Durante o período de protestos, descobriu-se que as universidades tinham um fundo de reserva de US$ 800 milhões. O ministério das Finanças e o da Educação argumentaram que o fundo poderia auxiliar o Estado a resolver a crise de recursos.
Os salários de professores e funcionários levam o grosso do orçamento da universidade pública francesa -68%, em média.
O Estado financia 85% do gasto total das universidades -80% desta dotação, do ministério da Educação, são gastos com pessoal.
Para fechar o cálculo, as universidades contam principalmente com o dinheiro das matrículas (3% do orçamento) e de contratos de pesquisa e venda de produtos e serviços (6%).
Mas nessas contas, na contabilidade complexa do sistema universitário francês, não entram as verbas e contratos de pesquisa feitos em triangulação com as grandes instituições, públicas ou privadas, da pesquisa francesa, como o CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica).
É nesses institutos, ou em parceria com eles, que se realiza boa parte da pesquisa francesa.
O CNRS é financiado em parte pelo ministério da Educação (40%), em parte pela sua dotação própria (30%). Os 30% restantes são provenientes de contratos da instituição com empresas e, ou, outros centros de pesquisa e universidades, franceses ou não.

Texto Anterior: Estudantes terão que pagar mais
Próximo Texto: Estado financia na Argentina
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.