São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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Emprego!

ALOIZIO MERCADANTE

O balanço econômico de 1995 têm sido superficial, embalado pelo adesismo quase generalizado da imprensa ao governo FHC.
O custo da estabilização monetária centrada na âncora cambial e taxas de juros altas é extremamente elevado e pouco debatido.
A abertura comercial com câmbio sobrevalorizado dobrou o volume de importações do país em dois anos. Alguns setores foram esmagados pelas importações predatórias, outros pela taxa de juros que esteve entre as mais elevadas da economia internacional, 30% em dólar ao ano, contra 5,7% dos Estados Unidos, 3,9% da Alemanha e 0,5% do Japão.
A taxa de juros que atrai capital especulativo para fechar o balanço de pagamentos deficitário deflagrou uma grave crise de liquidez e impulsionou um recorde de falências nos últimos 32 anos, com cerca de 10.000 empresas quebradas. Além de ampliar o déficit público, que foi de 4,1% do PIB (Produto Interno Bruto), e aumentar a dívida pública, que cresceu R$ 47 bilhões em 1995!
A agricultura sustentou a estabilidade da cesta básica até aqui, mas foi profundamente descapitalizada. A queda estimada da safra é de 13,9%, com redução na área plantada de 2,4 milhões de hectares e mais de 500 mil demitidos.
A âncora cambial é incompatível com o crescimento econômico sustentado, o PIB caiu de uma taxa de 6,9% em 1994 para cerca de 3,5% em 1995 e o país não pode voltar a crescer.
O desemprego é o custo social mais dramático, nesses tempos em que os empresários já não discutem mais sua função social. O governo não reconhece a gravidade do problema.
Segundo o presidente, "é um problema localizado em algumas regiões". Não é. Os dados do IBGE estão baseados em uma metodologia insustentável para quem quer discutir para valer o problema.
O IBGE registra um índice de desemprego de 4,7% da PEA para o país, contra 13,7% do Seade-Dieese para a Grande São Paulo. Os dados da Fiesp e do Secovi, entidades empresariais, projetam nacionalmente 1,1 milhão de desempregados só na indústria de transformação e construção civil. O desemprego e o subemprego estão por toda a parte.
O emprego tem de entrar na agenda nacional. O emprego não pode ser um subproduto do mercado, precisa assumir a dimensão de um dos principais objetivos da política econômica do país.
A Alemanha está dando um exemplo, ao negociar um projeto de geração de 2 milhões de empregos, em cinco anos. É fundamental estabilizar a economia, mas em bases que permitam ao Brasil rever este projeto neoliberal tardio e orientar o modelo econômico em direção à produção e ao emprego.

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