São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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Juros a 2% ao ano nos EUA

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Enquanto em nossa pátria varonil os diretores do BC continuam defendendo os juros na lua, nos EUA um dos temas da próxima campanha presidencial é como baixar a taxa de juros para compradores de casa, agricultores etc. para 2% por ano!
O leitor pode arregalar os olhos e pensar que enlouqueci, o que não é verdade. São fatos.
Assisti na CNN, na semana que passou, uma entrevista de Robert Dole, virtual candidato do Partido Republicano à presidência. Na entrevista, Dole insistiu que o Orçamento do governo americano precisa ser equilibrado, isto é, precisa igualar as despesas com as receitas; e que fará isto, se eleito.
Dole diz que isto é possível, sem elevar os impostos, se alguns gastos forem reduzidos, dentre os quais citou cortes nas despesas com defesa e redução nos subsídios agrícolas.
Se o déficit público americano (3% do PIB) puder ser eliminado, e como ninguém prevê perturbação importante da ordem internacional, a inflação americana deve cair para 0% e os empréstimos para tomadores poderão ser feitos à taxa nominal de 2% por volta de 1998.
Grifo o fato que tal discussão é válida e tecnicamente correta em um país conhecedor de capitalismo, como os EUA. Enquanto isso, aqui, ao sul do Equador, assistimos a um desfile de autoridades defendendo nossos juros lunáticos.
Tal política insana é legado da gestão Marcílio Marques Moreira na Fazenda, assessorado por economistas da PUC-RJ, que têm-se revezado na direção do BC desde 1991. Parece que não ensinam economia monetária corretamente naquela casa de ensino.
Mas a consequência dos juros na lua é que eles atuam como um câncer em metástase. Primeiro, faz cair o nível de consumo e encarece os produtos que precisam de mais capital de giro. Segundo, deteriora a saúde dessas empresas, que se vêem obrigadas a renegar suas dívidas. Terceiro, lenta, mas inexoravelmente, o ativo do setor bancário vai "micando". Ao mesmo tempo, tais juros atuam de forma devastadora sobre as contas públicas.
Em conclusão: em matéria de capitalismo e de seu funcionamento, tem economista no Brasil que acha que basta arrumar formas de "produzir" lucros financeiros. Mas assim não vamos a lugar algum!

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