São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996 |
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BID promove modelo asiático na AL
GILSON SCHWARTZ
O tema não é novo, mesmo no Brasil, mas pela primeira vez em muitos anos começa a surgir um espaço na agenda do governo para discutir melhor o assunto. Está em pauta o famigerado "longo prazo" numa economia que, com inflação baixa, não tem ainda recursos nem mecanismos para alavancar o crescimento. Uma lição da crise mexicana que aos poucos vai sendo assimilada é a de que os mercados, mesmo quando a luta contra a inflação tem sucesso, raramente se animam a dar saltos rumo a uma nova etapa de crescimento. Ao mesmo tempo, nos vários casos também o Estado que "sobra" está fiscalmente debilitado e financeiramente acossado. Ou seja, as velhas receitas desenvolvimentistas também não têm arrimo. Se nem os mercados nem o Estado estão em condições de lançar as bases de um novo modelo, uma alternativa seria voltar a examinar soluções parciais, fazer escolhas setoriais, desenhar instrumentos financeiros capazes de envolver ao mesmo tempo o governo e o setor privado. Muitos motivos explicam por que ficou afogado o motor de arranque, a começar pelo fato de que décadas de superinflação crônica impediram o desenvolvimento de instituições financeiras e mercados de capitais com horizontes de longo prazo. O que a experiência asiática mostra é justamente uma enorme capacidade de organizar esses foros onde interagem o setor público e o privado. Na prática, muitas vezes acontece de se usarem recursos públicos, mas com critérios de eficiência e retorno próximos aos de mercado. Em outras palavras, o orçamento do governo se transforma num importante instrumento de política industrial, mas no lugar dos recursos a fundo perdido ou da distribuição generosa de subsídios, surgem instituições financeiras com políticas setoriais e estratégias de desenvolvimento compartilhadas com o mundo empresarial. O tema central do seminário promovido pelo BID era "policy-based finance", ou seja, financiamento sujeito a opções políticas, ou "crédito direcionado". Esse tipo de instrumento foi usado no Japão e na Coréia, servindo tanto para organizar a reconstrução japonesa no pós-guerra quanto para dotar a economia coreana de potentes conglomerados que, no espaço de poucas décadas, penetraram em mercados aparentemente fechados a países em desenvolvimento, como o de semicondutores ou de eletrônica de consumo avançada. Mas se o tema é técnico e o instrumento financeiro digno de um bom manual de financiamento ao desenvolvimento, compreender as condições do seu sucesso é um enorme desafio. Há dois problemas fundamentais: um é compatibilizar essa estratégia microeconômica com o equilíbrio macroeconômico, evitando a inflação. Outro é evitar que o "direcionamento" descambe no "dirigismo", cujo filhote é a corrupção nas suas mais variadas formas. Para harmonizar o micro e a macro, evitando a inflação, é preciso garantir que os recursos que se pretende direcionar aos vários setores tenham uma origem clara e, nos vários projetos, um retorno mínimo. Para evitar o dirigismo é preciso que os envolvidos, especialmente do lado do governo, tenham elevadíssima capacitação técnica e um mínimo de independência política. É possível aplicar esse modelo na América Latina? Essa era a preocupação dos técnicos do BID, nem sempre respondida na afirmativa. Há recursos não-inflacionários para financiar projetos de longo prazo? Evidentemente, não. Mesmo o dinheiro que tem vindo de fora é predominantemente de curto prazo. Os fundos de pensão e os sistemas de previdência complementar, que alguns vêem como a bóia de salvação, podem levar muitos anos até começarem a se interessar por projetos desse tipo. E nunca é demais lembrar que, mesmo onde esse modelo misto deu certo, como no Japão e na Coréia, os sintomas de corrupção e feudalização do Estado ficam devendo pouco às mais tropicais das repúblicas de bananas. Texto Anterior: Ferrovias fora dos trilhos Próximo Texto: Indústria moderna gasta menos Índice |
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