São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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Biógrafo explica a 'nixonmania'

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

O historiador e biógrafo norte-americano Frank Gannon, 65, não se incomoda em parecer pretensioso ao dizer que é uma das pessoas mais capacitadas para falar sobre o mais polêmico e odiado presidente que os Estados Unidos já tiveram: Richard Milhous Nixon.
Gannon foi ajudante pessoal de Nixon durante os três anos em que ele passou na Casa Branca (sede do governo dos EUA) e terminou se tornando um de seus amigos mais íntimos.
Após o escândalo de Watergate e a renúncia de Nixon em 1974, Gannon se jogou de corpo e alma no projeto de fazer uma "psicobiografia" do presidente.
Os dois passaram cerca de 5.000 horas juntos entre 1974 e 1978, a maior parte do tempo na chácara de Nixon em San Clemente (Califórnia).
O resultado está à disposição dos americanos desde dezembro do ano passado: uma coleção de três fitas de vídeo com depoimentos e imagens da vida de Nixon desde a infância até a renúncia à Presidência dos EUA.
O primeiro vídeo, "Early Life", tem 66 minutos e fala sobre a infância pobre na Carolina do Sul, a perda de dois irmãos na adolescência por causa de tuberculose, a experiência como soldado no Pacífico Sul e o início do envolvimento com política.
O segundo, "Pat", dura 50 minutos e revela o complicado relacionamento entre o presidente e a sua mulher.
O próprio presidente fala sobre a importância que Pat teve em sua carreira e a defende das acusações de que era "fria" (a imprensa apelidou-a de Pat-Plástica).
"Pat não era fria. Só que ela não gostava de mostrar nenhum tipo de afeição em público", afirmou Nixon a Gannon.
O terceiro vídeo, "28 Days", é considerado o mais importante da trilogia, porque mostra passo a passo os 28 últimos dias de Nixon na Casa Branca.
"Foi um mês de estresse físico, mental e emocional. Ficamos os dois cansados só de lembrar o que aconteceu", afirmou Gannon em entrevista à Folha.
Apesar de não trazer nenhuma revelação bombástica sobre Watergate, o vídeo é interessante porque tem análises do próprio Nixon sobre o que aconteceu.
"Os episódios que ficaram conhecidos como Watergate foram ilegais e estúpidos. Muito estúpidos", diz Nixon em um trecho do depoimento.
Gannon afirma que demorou mais de dez anos para editar as fitas porque precisou arranjar outros empregos para se sustentar (ele foi roteirista do talk-show de David Letterman, um dos programas mais populares da TV dos EUA).
"Fazer a biografia de Nixon em vídeo era meu projeto de vida, não um emprego. Só tinha tempo de trabalhar nele durante as férias e nos fins-de-semana."
Gannon nega que tenha recebido US$ 500 mil da rede de TV CBS para apresentar trechos selecionados da biografia em vídeo em 1984. "Fui pago para apresentar as imagens, claro. Mas não recebi nem metade deste valor", disse.
A trilogia de vídeos foi lançada em dezembro pela Central Park Media, de Nova York e custa US$ 49. Gannon afirmou que, apesar de conhecer detalhes da vida pessoal e política de Nixon não-incluídos no vídeo, não quer escrever um livro com esses segredos.
"Pelo menos por enquanto, acho melhor deixar as coisas como estão. Vou escrever a minha própria biografia e, quem sabe então, revele algum desses detalhes."
O historiador diz que não sabe explicar ao certo por que Nixon voltou a ser tão popular em 1995, mas tem um palpite.
"Nixon não é uma pessoa fácil de entender. Eu mesmo levei anos para me acostumar com ele. É como as comidas boas, mas indigestas. Acho que só agora os americanos estão finalmente se abrindo para tentar entender quem era."
Além do filme de Oliver Stone, das entrevistas de Gannon e do telefilme da TBS, Nixon voltou a ocupar as manchetes dos jornais dos EUA na semana passada por um mais uma "distorção".
Parte da série de selos comemorativos que traziam o rosto do presidente estampado estavam com defeito de impressão e, por isso, passaram a valer quase cem vezes o valor original.

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