São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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O mundo se curva, de novo

CLÓVIS ROSSI

DAVOS - No plano internacional, o Plano Real é um sucesso de crítica.
A melhor comparação parece ser a de Moisés Naim, um ex-ministro venezuelano, especializado em América Latina e membro da fundação Carnegie para a Paz Internacional, dos Estados Unidos.
Naim esteve, em meados do ano passado, no Fórum sobre o Mercosul, organizado em São Paulo pelo Fórum Econômico Mundial.
"O ambiente é diferente. No ano passado, era de expectativa. Agora, é de entusiasmo", diz Naim, depois de ter ouvido a palestra que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, fez na noite de sexta-feira sobre a economia brasileira.
Ele faz questão de esclarecer que o entusiasmo não vem apenas do discurso de Malan, claro, articulado, em inglês irretocável.
"É pelos fatos. Não se consegue fazer bons discursos sem que haja fatos que os amparem", diz esse PhD pelo mitológico MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
Não está sozinho. Conforme a Folha já publicou ontem, Jeffrey Sachs, que a revista "Time" considera "o mais conhecido economista do mundo", faz igualmente elogios, com pequenas ressalvas.
No caso de Sachs, a comparação com o passado é talvez mais ilustrativa ainda. Há três anos cruzei com ele nos corredores do Fórum. "Brazil, my God", foi a sua espontânea e imediata reação ao me cumprimentar.
É claro que a avaliação dos que vêem o Brasil de longe só pode ser mesmo favorável. Entre os 5.000% de inflação de antes e os 20% de 1995, a diferença é infinita. Mas os problemas sociais continuam sendo "vexatórios", para usar expressão do ministro Pedro Malan.
O ministro orgulha-se do fato de que a redução da inflação "tirou o imposto inflacionário dos ombros de quem tem menos condições de arcar com ele". Mas ele próprio admite que não é suficiente.
Quando se pede mais, no entanto, o ministro recorre à palavrinha preferida da equipe econômica, o tal de "processo". "Não há solução mágica", diz Malan.
Ganhou pelo menos o público externo.

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