São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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Crise mexicana é dada como superada

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

A crise mexicana está superada e não há mais razões para se temer o "efeito tequila", como se designou a hipótese de a quebra do México, em dezembro de 1994, espalhar-se por todos os chamados mercados emergentes.
Pelo menos é essa a avaliação virtualmente consensual de autoridades, empresários e acadêmicos que participam do Fórum Econômico Mundial.
O próprio presidente mexicano, Ernesto Zedillo, incumbiu-se de anunciar o fim da crise, em palestra no sábado.
Depois de dizer que a crise fora mais severa do que a da dívida, que eclodiu em 1982, Zedillo garantiu:
"O México conseguiu emergir dela muito mais rapidamente."
Seu chanceler, Angel Gurria, foi até mais enfático:
"O México virou a esquina para um futuro melhor e mais brilhante."
Seu colega argentino, Carlos Menem, um dos mais afetados pelo tequila", também exalou otimismo.
"Superamos a crise e, neste momento, estamos em pleno crescimento", afirmou.
No Fórum-95, a crise mexicana fora o tema dominante, suscitara previsões apocalípticas e a avaliação de que era "a primeira crise do século 21", nas palavras de Michel Camdessus, diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Crise do século 21, mas superada, pelo menos na avaliação das autoridades presentes ao Fórum-96, com idéias do século 20 ou talvez 19, até 18.
Ou, como disse Karel Dyba, ministro de Economia da República Tcheca:
"Temo que não temos idéias novas, mas apenas velhas boas idéias."
Quais são? Responde Larry Summers, subsecretário norte-americano do Tesouro:
"O mundo definitivamente convergiu para o sentido comum. Há crescente consciência de que fortalecer os fundamentos é a chave para a estabilidade econômica".
Por fundamentos, entenda-se orçamento equilibrado, política monetária austera, redução do peso do Estado.
Em resumo, as reformas que se tornaram moeda corrente no mundo, em seguida ao desmoronamento do comunismo.
O ministro brasileiro da Fazenda, Pedro Malan, bateu na mesma tecla ao comentar as lições da crise mexicana.
"A crise ensinou que a melhor resposta é fazer como o México fez, ou seja, acelerar o processo de reformas", disse.
O presidente argentino até se autocongratulou quando a Folha quis saber que lição deixara para seu país a crise mexicana.
"Ficou perfeitamente estabelecido que nosso modelo está em condições de suportar esse tipo de situações. Portanto, vamos continuar com ele", respondeu.
Em todo o caso, Malan foi o único a tocar no tema de uma maior coordenação internacional, em especial sobre a movimentação financeira, que se discutiu muito no auge da crise mexicana e depois se esqueceu.
Malan insistiu em que algumas instituições internacionais não estão preparadas para uma ação muito rápida para conter o pânico que pode se estender a outros mercados emergentes, em caso de crises semelhantes no futuro.
(CR)

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