São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996 |
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CD clássico atrai homossexuais desinformados
JOÃO BATISTA NATALI
O primeiro mal-entendido está no fato de a linguagem musical não transportar temas ou conteúdos narrativos explícitos que possam singularizar o homossexualismo como atributo do compositor. Na literatura, isso pode muito bem ocorrer -como em "Giovanni", de James Baldwin. Pode também não ocorrer de forma alguma, como em "O Fantasma de Canterville", novela de Oscar Wilde. Baldwin e Wilde foram gays. O segundo mal-entendido está na suposição de que determinada partitura traga embutida, ao lado de filiações estéticas que os musicólogos conseguem identificar com precisão, o tipo de parceiro cobiçado pelo seu autor. Piotr Tchaikovski (1840-1893), com duas composições no CD "Out Classics", é em todo e qualquer momento o romântico que reuniu formas sinfônicas francesas à harmonia russa e, com isso, expressou seu nacionalismo. A tensão harmônica que ele por vezes exprime aparece também em Schumann, Brahms ou Wagner, três notórios heterossexuais. O homossexualismo de Tchaikovski é um dado biográfico corrente. Surge com frequência nas cartas que ele endereçava a seu irmão. Um escândalo que o envolveu com um amante foi a causa de sua ruptura com Nadejda von Meck, bilionária russa que por longos anos lhe deu, platonicamente, auxílio financeiro. Aaron Copland (1900-1990) e Samuel Barber (1910-1981) são duas peças fundamentais na criação de um lirismo próprio ao modernismo norte-americano. Mas cultivaram formas orquestrais arraigadas à miscigenação modernista e em nada tributárias de suas preferências sexuais. O mesmo vale para Leonard Bernstein (1918-1990), amigo e discípulo de Copland. Foi casado por 30 anos, certamente preferia os homens às mulheres, mas nada disso transparece em seu oratório "Jeremias" ou na ópera jazzística "West Side Story". Estes três compositores estão no CD da "Out" ao lado do inglês Benjamin Britten (1913-1976), que manteve por quase 40 anos o mesmo amante, fato tão notório quanto a predominância de valores barrocos e clássicos. Mas em meio a estes nomes de preferência sexual biograficamente comprovada, os editores da "Out", incluíram dois outros por questão de oportunismo. Franz Schubert (1797-1828), o inovador e romântico Schubert, tem sua imagem sexual ligada aos três filhos que produziu durante o casamento e informações em sentido inverso, surgidas em 1988, foram recebidas como uma espécie de produto comercial que a comunidade gay consumiu em nome do politicamente correto. Por fim, Frédéric Chopin (1810-1849) não chega a ser um enigma sexual. Sua heterossexualidade é atestada pela escritora Aurore Dupin, cognominada George Sand, que se refere a ele com inequívoca sutileza, em suas memórias, como um companheiro de masculina delicadeza durante oito anos em que foram amantes. Disco: "Out Classics" Lançamento: BMG Preço: R$ 20 (o CD, em média) Texto Anterior: "Roque Santeiro" ganha versão musical Próximo Texto: Enquete do caderno especial trouxe incorreções Índice |
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