São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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Governo cria câmara setorial do livro

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo decidiu criar a Câmara Setorial do Livro e da Comunicação Gráfica para tentar baixar o preço do livro no Brasil, aumentar o público leitor, principalmente jovem, e elevar a qualidade das publicações. A instalação oficial do órgão será no final deste mês.
A câmara setorial, convocada pelo governo, reúne todos os setores da produção gráfica: representantes de editoras, jornais, revistas, fornecedores de papel, gráficas, distribuidoras e sindicatos, além dos ministérios da Cultura, Educação e Indústria e Comércio.
O modelo de câmara setorial, que já existe para outros produtos, é formular propostas de todos os envolvidos na cadeia de produção para atingir os objetivos estabelecidos. Um exemplo considerado bem-sucedido foi a câmara setorial da indústria automotiva, que baixou o preço dos carros populares.
As propostas da câmara setorial podem se converter em projetos de lei enviados ao Congresso ou se tornar simples acordo entre as partes, com vigência imediata.
Otaviano de Fiori, secretário nacional de política cultural do Ministério da Cultura, afirma que a criação da câmara do livro busca atacar um problema vital para o desenvolvimento do país: o aumento da massa de leitores.
"Uma massa crítica de leitores é fundamental para o desenvolvimento do país, ao lado da escolarização", diz. "Vários estudos mostram que a escola não se desenvolve sem um ambiente cultural externo e vice-versa."
Segundo Fiori, a formação da massa de leitores é também um objetivo estratégico para as empresas do ramo editorial, porque significa ampliação do mercado.
Fiori afirma que a câmara setorial deve criar propostas que combatam os problemas do custo e do acesso a publicações em todas as fases da produção. "A questão do livro envolve muitos fatores, como quantidade de leitores, custos de papel e gráfica, avanço tecnológico, custo Brasil (alfândega, transportes, portos)", diz.
Para contemplar todos esses aspectos, a primeira reunião da câmara setorial vai criar grupos específicos. Eles serão responsáveis por elaborar propostas técnicas que serão discutidas e aprovadas pelo conjunto da câmara.
A inclusão de jornais e revistas na câmara parte, segundo o secretário, da constatação de que eles são importantes meios de captação de leitores, além de responderem por uma fatia importante do parque gráfico nacional.
Segundo Fiori, há também o interesse em trazer para a discussão as pequenas editoras. "As empresas pequenas são as responsáveis pelas grandes inovações. Hoje, na Califórnia, por exemplo, as pequenas tomam conta do mercado."
Os participantes começam a ser convidados nesta semana. Citando conversas prévias com editores, fornecedores de papel e outros segmentos, o secretário afirma que a formação da câmara desperta grande interesse no setor.
Além de buscar solução para as questões atuais, a câmara setorial terá um grupo dedicado a estudar alternativas de desenvolvimento tecnológico. Nesse ponto estão incluídas novas mídias, como Internet e multimídia. "Será o grupo do ano 2000. Precisamos chegar ao livro eletrônico junto com os países mais avançados", diz Fiori.
A abertura da câmara setorial está prevista para o próximo dia 29. A data ainda depende da confirmação da agenda do presidente Fernando Henrique Cardoso.
O presidente não participará da cerimônia de instalação, por questões protocolares, mas receberá os membros da comissão, no Palácio do Planalto, logo em seguida.
A experiência de uma câmara setorial do livro, mais restrita do que a atual, já foi tentada durante o governo Collor. Ela foi desativada após poucos meses de funcionamento, com o impeachment. Seu único resultado foi baixar a tarifa postal para publicações.

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