São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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Mais vendidos nem sempre são baratos

DANIELA FALCÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

A questão dos preços deve ser o primeiro alvo da câmara setorial. A Folha mostrou, em reportagem na segunda-feira passada, casos de livros de autores brasileiros que, traduzidos e publicados no exterior, são mais baratos do que o mesmo livro em edição nacional.
"O Sorriso do Lagarto" (João Ubaldo Ribeiro, Nova Fronteira), por exemplo, custa R$ 27 na edição brasileira e R$ 20,58 (US$ 21) em edição norte-americana de luxo, capa dura (editora Atheneum).
Os editores argumentam que a baixa tiragem no país (hoje 3 mil exemplares em média, contra tiragens superiores a 100 mil nos EUA) é a primeira responsável pelos preços mais altos. Mas, mesmo livros que estão nas listas de mais vendidos não têm preços necessariamente mais baixos.
A biografia de Garrincha, "Estrela Solitária" (Ruy Castro, Companhia das Letras), editada com patrocínio, custa R$ 31. "Chatô, o Rei do Brasil" (Fernando Morais, Companhia das Letras), também com patrocínio, sai por R$ 34. Ambos com edições iniciais superiores a 40 mil. "Chatô" já vendeu 150 mil.
Nos EUA, uma biografia com as mesmas características e melhor produção editorial, como capa dura, fica em torno de R$ 25 -praticamente todas as livrarias dão descontos entre 20% e 30%, baixando o valor para cerca de R$ 20.
São os casos de "Palimpsest Arenon" (Gore Vidal, Random House), a US$ 27,50, sem desconto de 20%, e "Colin Powell: My American Journey" (Random House, capa dura), a US$ 25,95, não incluído desconto de 30%.
Também na lista dos mais vendidos, "Paula" (Isabel Allende, Bertrand Brasil), fica na mesma faixa brasileira de preço: R$ 31.
Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, diz que o patrocínio não influiu no preço do livro. Ele se destina a custear a pesquisa do autor, viagens, estagiários.
Schwarcz argumenta que não é possível comparar os preços no Brasil com os EUA, porque lá o livro se desdobra em diversos produtos -CD-ROM, livro de bolso, áudio-livro-, além de ser comercializado em um mercado de características muito diferentes.
"A taxa de juros do Brasil é a mais alta do mundo, os custos gráficos estão entre os mais altos. E não é só o livro: o jeans brasileiro custa o dobro do americano, os CDs no Brasil são mais caros. Não dá para pensar o livro separado da realidade econômica do país."
Segundo Schwarcz, o preço dos livros baixou 30% no início do Plano Real. Essa queda já foi "engolida" pela alta de juros, diz ele.

Colaborou DANIELA FALCÃO, de Nova York

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