São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Biografia de Ziembinski faz história do teatro

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Livro: Ziembinski e o Teatro Brasileiro
Autor: Yan Michalski
Preço: R$ 38, 518 páginas

Chega às livrarias a biografia do ator e diretor teatral Ziembinski escrita pelo crítico Yan Michalski -os dois poloneses.
Yan Michalski (1932-1990) chegou ao Brasil em 1948 e foi crítico do "Jornal do Brasil" de 1963 até 1982, depois de ter trabalhado como ator e diretor de teatro. Quando morreu, deixou inacabada esta biografia de Ziembinski (1908-1978), chamado o "pai do teatro brasileiro moderno". Coube ao também diretor teatral Fernando Peixoto a tarefa de fazer a edição final do texto de Michalski, que a editora Hucitec lança agora. "Quando morreu, Yan deixou cerca de 1.400 páginas que precisei reduzir para transformar em livro", diz Peixoto.
Em sua pesquisa, Michalski teve a colaboração do Ministério da Cultura da Polônia, que forneceu dados sobre a carreira de Ziembinski em seu país antes de chegar ao Brasil, em 1941, fugindo da Segunda Guerra Mundial (leia texto ao lado). "Ziembinski e o Teatro Brasileiro" é escrito como uma "grande reportagem", diz Peixoto. "O Yan se apóia na consideração crítica de várias pessoas, não fica só em sua própria opinião."
Ao relatar as reações da crítica e do público às montagens de que Ziembinski participou (quase uma centena), Michalski acaba fazendo um extensivo estudo da produção teatral brasileira desde os anos 40.
Sobre a estréia de "Vestido de Noiva" no Teatro Municipal do Rio em 1943, por exemplo, o leitor tem acesso a opiniões diversas sobre a montagem, considerada por muitos como "divisora de águas" no teatro brasileiro.
Segundo a análise de Michalski, dizer que a montagem de Ziembinski, com o grupo Os Comediantes, para o texto de Nelson Rodrigues é o "ponto de partida do moderno teatro brasileiro" pode ser uma simplificação, mas não deixa de ser verdadeira. Ziembinski trouxe ao Brasil uma concepção estética moderna do "teatro como espetáculo". Mas, segundo alguns críticos, ele foi, por isso, uma influência "colonizadora" e o responsável pela interrupção de uma tradição teatral genuinamente popular no Brasil.
Depois do impacto de suas montagens realizadas até 1950, Ziembinski trabalhou no TBC e no Teatro Cacilda Becker em esquema mais profissional, mas também mais conservador. A partir dos anos 60, o diretor polonês, que sempre manteve uma postura apolítica, ficou à margem da efervescência teatral que acontecia no Arena e no Oficina, essencialmente "revolucionários". Mas mesmo que com as transformações políticas do país, Ziembinski tenha perdido o bonde da história, ele foi o formador de muitos atores como Cacilda Becker, Fernanda Montenegro, Jardel Filho, Walmor Chagas e Rubens Corrêa, entre outros.
Em anexo, "Ziembinski e o Teatro Brasileiro" traz um depoimento inédito que o diretor gravou em 1973 pensando em seus futuros biógrafos. O livro traz também a ficha técnica de 94 peças em que Ziembinski atuou ou que dirigiu nos 37 anos que viveu no Brasil.

Texto Anterior: Itamaraty decide hoje se o cantor vem ao Brasil
Próximo Texto: Diretor veio fugido da guerra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.