São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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Melhor que o esperado

Os mais variados indicadores vêm sugerindo nas últimas semanas uma performance econômica em janeiro que surpreendeu a maioria dos analistas.
Da redução no ritmo de demissões na indústria paulista aos dados sobre consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), há sinais de que a economia parece ter saído de uma letargia, senão pessimismo diante da hipótese de recessão, que predominava no último trimestre do ano passado.
O pessimismo do final de 1995 tinha três justificativas básicas: a crise de crédito, o nível mais baixo que o esperado dos estoques encomendados à indústria para o Natal e a própria violência e rapidez da freada a que foi submetida a economia no segundo e terceiro trimestres de 1995.
A crise de crédito (e também bancária) sugeria, entre outras hipóteses, a de que os consumidores já não teriam, no final de 95, a mesma capacidade de endividamento que, em 94, gerou o boom de produção e vendas. Do lado da oferta de crédito por parte dos bancos e outros intermediários, havia motivos de sobra para imaginar uma contração duradoura que no limite conduziria à recessão.
A própria intensidade da crise bancária, entretanto, levou o governo a um relaxamento progressivo das restrições de crédito, além de ter patrocinado uma desova recorde de recursos no sistema por parte do Banco Central, via Proer.
Os juros não caíram, mas a liquidez aumentou e, apesar do custo fiscal e do descontrole monetário, conseguiu-se afastar o sentimento de pânico que ia perigosamente ganhando força.
Quanto aos estoques, foram de fato inferiores ao esperado e isso se explica pela altíssima taxa de juros e pelas dificuldades dos empresários em manter níveis mais elevados de capital de giro.
Entretanto, os estoques baixos de três meses atrás significam agora que o movimento de recomposição de estoques é mais forte que o esperado. Isso dinamiza a indústria, que reduz o ritmo de demissões para dar conta de uma demanda que ainda é bastante robusta.
Finalmente, a brecada econômica de 1995 foi de fato brusca e profunda, mas passado o susto o que se verifica agora é que há também um crescimento inercial, um poder de compra dos salários que ainda mantém o ganho da estabilização.
O resultado portanto surpreende, mas pode ser explicado por fatores de curto prazo. E ganha fôlego com a redução gradual de juros. Resta saber, mais uma vez, se pode também ser sustentado no médio e longo prazo.

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