São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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O desafio das universidades

Pelo artigo 207 da Constituição, as universidades públicas e privadas gozam de "autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial". Essa liberdade de auto-organização não significa que, para sua manutenção, tais instituições devam contar apenas com recursos próprios. A carta prevê, no artigo 231, parágrafo 2º, tanto o apoio dos governos quanto o de instituições privadas.
Entretanto, algumas distorções nas últimas três décadas vêm atingindo as universidades públicas, comprometendo até mesmo a sua sobrevivência. Formadas segundo o modelo europeu, foram sempre custeadas principalmente pelo poder público.
Com a crescente presença do Estado na atividade econômica até o início dos anos 90 -contra a qual lutam hoje muitas das reformas estruturais preconizadas pelo governo FHC-, os recursos provenientes de prestação de serviços e parcerias não integram mais do que 5% do orçamento das universidades federais.
Além disso, sem ter de enfrentar a concorrência externa, muitos setores privados da economia não viviam os desafios de uma competitividade mais acirrada. Não precisavam assim demandar às universidades novas tecnologias que os capacitassem a uma inserção mais vigorosa no mercado.
Por fim, com a folha de pagamentos garantida pelo Estado, os pesquisadores das universidades públicas não encontram o estímulo para procurar parcerias tanto para a realização de seus projetos quanto para uma captação mais sensível das demandas sociais. Os recursos do setor privado cobrem, por exemplo, apenas 1,5% do orçamento anual da Universidade de São Paulo -que entre as instituições públicas é a que ainda goza de maior credibilidade fora do país.
Assim, com a notória escassez de recursos públicos no país, as universidades se deparam hoje com o desafio de se ajustar à abertura de mercados e aos novos padrões de competitividade, com orçamentos menos dependentes do Estado.

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