São Paulo, terça-feira, 6 de fevereiro de 1996
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Mercados emergentes vão receber US$ 200 bi em 96

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Cerca de US$ 200 bilhões voarão para os chamados mercados emergentes somente neste ano, prevêem especialistas em investimentos globais reunidos domingo pelo "The Wall Street Journal", edição européia.
O jornal, uma das bíblias do mundo empresarial, aproveitou o Fórum Econômico Mundial, que se realiza na cidade suíça de Davos, para sondar o tamanho do fluxo de capitais para os mercados emergentes.
Chegou a essa cifra portentosa, que equivale a um terço de toda a riqueza que o Brasil produz anualmente, o Produto Interno Bruto.
É compreensível, ante os números, que o Kongresszentrum, o prédio de quatro andares que abriga o fórum, tenha se transformado em uma espécie de superfeira livre do capital.
Em lugar de barraquinhas, estandes (ou contatos pessoais) em que diferentes países oferecem-se aos investidores estrangeiros sob as mais diversas formas.
É igualmente enorme a diversidade de situações dos países "abertos para negócios", como diz um folheto da Índia.
Há desde membros do G-7, o clube dos sete países mais ricos do mundo, até os ultrapobres, até aqui virtualmente marginalizados do mundo das finanças.
"Sete razões para investir na França", anuncia folheto do Ministério da Economia e Finanças da quarta potência mundial.
"Fazendo negócios na África", contra-ataca o folheto com que a África do Sul anuncia uma conferência internacional em maio para atrair empresários.
P. V. Obeng, presidente da Comissão Nacional de Planejamento de Gana, anima-se a dizer que "a África é um mercado não-descoberto, um mercado do futuro".
Nessa feira livre não basta anunciar as virtudes de seu produto. Convém também desvalorizar o concorrente.
Como faz estudo da consultoria Arthur Andersen, encomendado pelo governo francês: além de anunciar "continuado crescimento do mercado europeu", o estudo chama a atenção para "riscos na Ásia", hoje o continente que mais atrai investimentos.
O Brasil, claro, não ficou de fora da grande feira. Um luxuoso folheto trombeteia "The Real Plan", em inglês, claro, único idioma ecumenicamente compreensível na babel do fórum.
Nas bordas, o governador de Santa Catarina, Paulo Afonso Vieira (PMDB), anda para cima e para baixo com o folheto em que garante que seu Estado "tem um conjunto único de características socioeconômicas e políticas".
Henrique Weber, secretário extraordinário para Integração ao Mercosul, se surpreende:
"Estávamos acostumados a competir só com o Paraná e com o Emerson Kapaz (secretário de Ciência e Tecnologia de São Paulo). Aqui, enfrentamos até o Uzbequistão", referindo-se a uma das repúblicas nascidas do desmembramento da União Soviética.
Weber tremia de frio ontem, na neve de Davos, ao deixar a mais recente iniciativa de seu governador: um promissor almoço com as "gazelas".
Não, não é prático típico desta insólita feira do capitalismo. É o nome que se dá às pequenas empresas de grande crescimento, que Santa Catarina tenta seduzir.
Não é fácil. Atrás delas está também a Polônia, cujo slogan é mais adequado para capturar gazelas: "Polônia, a águia ascendente da Europa".

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