São Paulo, terça-feira, 6 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Kapoor estuda espaço que terá na Bienal

MÔNICA MAIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O escultor anglo-indiano Anish Kapoor examinou ontem o espaço onde vai instalar seu trabalho, na 23ª Bienal Internacional de São Paulo. Com o tema "A Desmaterialização da Arte no Final do Milênio", a Bienal reservou uma das dez salas especiais para a exibição de Kapoor.
"Visitei o local, mas ainda não está claro qual espaço será utilizado. Desta vez será diferente da Documenta de Kassel, em 1992, onde usei um espaço aberto. Será dentro do prédio", diz Kapoor.
Aos 41 anos, ele é um dos mais expressivos nomes da escultura britânica contemporânea. Suas obras com pedras e pigmentos em formatos monumentais trazem fendas e aberturas aludindo a espaços interiores. São orientadas pela tradição tântrica indiana.
Kapoor participou da Bienal de 1983, junto com Tony Cragg e Bill Woodrow, na mostra "Transformations: New Sculpture from Britain".
"Nos anos 80 os escultores ingleses tratavam a obra como paródia. Tínhamos dois tipos de trabalho: a ironia de Bill Woodrow e Tony Cragg, e outro, nada irônico. Felizmente não éramos um grupo, mas gerações contemporâneas que tomaram direções diferentes", afirma Kapoor.
Kapoor não definiu se trará objetos ou construções para a 23ª Bienal. "Será um misto de objetos com arquitetura. O assunto desta Bienal é a desmaterialização da obra de arte. Vejo aproximações possíveis com meu trabalho", diz.
Seu trabalho "Descent into Limbo", exibido na Documenta de Kassel, em 1992, era uma instalação. Segundo Kapoor, esse trabalho lidava com noções da escultura minimalista, que ainda orientam sua produção.
"Me sinto conectado à linguagem minimalista. Mas olhar meu trabalho como essencialmente minimalista é um visão redutiva de arte. Não estou interessado em arte redutiva. Sou acumulativo. Me interesso pela acumulação artística e psicológica", afirma.
Ele lembra que "Descent into Limbo" é um trabalho sobre o medo. "Remete a um tipo de buraco negro que está em nós. É uma acumulação mitológica e fenomenológica trazendo uma noção de queda e precipício através daquele buraco", diz.
"Até 1985 meus objetos eram menores porque acompanhavam a escala humana. De 1986 para cá é como se este corpo tivessse sido virado pelo avesso. Os objetos aumentaram porque fazem referência a este espaço interior", afirma Kapoor.

Texto Anterior: Museu usa olhos de Picasso como logomarca
Próximo Texto: Independentes ganham 1º catálogo no Brasil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.