São Paulo, quarta-feira, 7 de fevereiro de 1996
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22.600 esperam por esterilização em SP

LUCIANO SOMENZARI
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de pessoas interessadas em se submeter a uma cirurgia gratuita de esterilização nos hospitais da Prefeitura de São Paulo soma 22.600.
Destes, 18.500 são mulheres e 4.100, homens, de acordo com dados fornecidos pela Secretaria Municipal da Saúde.
Há três meses o prefeito Paulo Maluf (PPB) sancionou uma lei que obriga os hospitais da rede municipal a realizar gratuitamente cirurgias de laqueaduras de trompas de falópio e de vasectomia.
Na própria Secretaria da Saúde, há controvérsias quanto ao número exato de cirurgias realizadas desde que a lei entrou em vigor.
O secretário da pasta, Roberto Paulo Richter, disse à Folha que foram feitas 991 cirurgias: 863 laqueaduras e 128 vasectomias.
Esse número foi contestado pelo coordenador das Administrações Regionais da Saúde (ARS), João Batista Lima Filho, que é subordinado a Richter. Segundo ele, foram feitas 379 laqueaduras e 73 vasectomias -total de 452 operações, praticamente metade do número divulgado por Richter.
"Não sei de onde o secretário tirou esse número. Talvez ele tenha visto um oito no lugar de um três", disse Lima Filho.
Pelos dados do coordenador, o hospital do Jabaquara não fez nenhuma cirurgia, com exceção das duas que "inauguraram" o serviço, realizadas em 29 de novembro.
A empregada doméstica Marisa Aparecida, 34, dois filhos, inscreveu-se no hospital do Jabaquara para fazer uma laqueadura.
Ela disse que não se importa com a possível demora: "Se for preciso esperar, tudo bem. Vou pedir ao meu marido para usar camisinha enquanto isso."
O coordenador do Programa de Atenção à Saúde da Mulher da prefeitura, Paulo Afonso Ferrigno Marcus, diz que os interessados em se submeter a uma cirurgia de esterilização são obrigados a participar de uma série de reuniões sobre planejamento familiar.
Essas reuniões seriam coordenadas por psicólogos, assistentes sociais e médicos, que analisariam os pacientes caso a caso.
A assessora do Programa de Saúde à Mulher Sonia Antonine Barbosa diz que a implantação das cirurgias pegou os médicos de surpresa. "Achamos que teríamos tempo para analisar melhor a maneira como isso seria aplicado."
Nas mulheres, a cirurgia de laqueadura consiste em cortar e amarrar as trompas para evitar que o óvulo chegue até o útero, impedindo a gravidez.
Na vasectomia, são bloqueados os canais deferentes -que levam o esperma dos testículos à uretra-, não havendo possibilidade de fecundar a mulher. Nos dois casos, é difícil reverter a cirurgia.
No âmbito federal, o assunto voltou a ter destaque depois que o presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu seu próprio erro ao vetar o artigo de um projeto de lei do deputado Eduardo Jorge (PT) sobre planejamento familiar que regulamenta a esterilização em hospitais da rede pública.

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