São Paulo, quarta-feira, 7 de fevereiro de 1996
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Arte brasileira viaja em busca de mercado

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

Começa hoje em Madri, para convidados, a 15ª edição da ARCO 96, feira de arte contemporânea que reúne cerca de 200 galerias européias, norte-americanas, asiáticas e latino-americanas. A abertura para o público é amanhã.
O Brasil comparece com a galeria Camargo Vilaça, que leva 12 de seus artistas, nove deles brasileiros: Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Ernesto Neto, Jac Leirner, Leda Catunda, Mario Cravo Neto (fotografias), Rosângela Rennó, Valeska Soares e Vick Muniz. Completam o time a colombiana Doris Salcedo, o venezuelano José Antonio Hernandez-Diez e o argentino Fabian Marsaccio.
A ARCO 96, primeira grande feira de artes plásticas do ano, é também a primeira de uma grande série de eventos nos quatro cantos do mundo que contará com a participação de brasileiros. Até o final do ano, dezenas de mostras individuais e coletivas com a participação de artistas do Brasil atingirão 38 cidades em 17 países, segundo levantamento com as principais galerias do eixo Rio-São Paulo.
Segundo o galerista Marcantonio Vilaça, sócio da Camargo Vilaça, a saída para outros países -através do aeroporto- também é a saída para o produto brasileiro com que trabalha. "Quero buscar o colecionador do futuro. O Brasil oferece resistência a trabalhos de ponta. A solução é partir para colecionadores mais ousados."
Regina Boni, proprietária da Galeria São Paulo, que tem sob seus cuidados artistas como Sergio Ferro, Cristina Canale e Amélia Toledo, discorda. "Não acredito em mercado externo de arte sem um mercado interno forte. E o mercado interno ainda é muito incipiente. É um mercado novo, que varia muito. Não temos uma estrutura de mercado, embora a produção aqui seja de alto nível. Peguemos o Antonio Dias, por exemplo, que é um dos artistas brasileiros mais conceituados no exterior. Ele vive praticamente como um estudante e mora fora há 30 anos", disse.
Segundo a galerista, a participação em feiras no exterior é uma estratégia de marketing dos marchands. "Isso é uma brincadeira, um caminho torto. O mercado interno deve ser fortalecido primeiro", completa.
"Participar de uma feira que reúne galerias do mundo inteiro e é frequentada por 200 mil pessoas não é uma brincadeira. É uma audácia. As galerias não podem ser mais apenas vendedoras de quadros. Sou agente dos meus artistas e a colocação deles no mercado externo faz parte do meu trabalho", rebate Vilaça, que diz ter gasto cerca de US$ 35 mil pelo estande e transporte das obras para Madri. "Não paguei mais porque fui convidado e como tal, tenho um desconto."
Quem também está mais interessado no mercado interno é Ricardo Trevisan, da Casa Triângulo, mas por outros motivos. "Trabalho com artistas emergentes e devo me preocupar com o mercado brasileiro. Fui convidado para ir a Colônia este ano, mas é inviável para mim, pois acontece junto com a Bienal de São Paulo, quando eu preciso estar aqui."
Segundo Raquel Arnaud, a participação de brasileiros em eventos no exterior é importante para o mercado interno, mas o maior problema é a legislação para a exportação das obras. "Não é como na Europa que, com a União Européia, facilitou muito o intercâmbio de obras", disse.
Raquel, que representa artistas como Zé Rezende, Waltércio Caldas, Carmela Gross e Anna Maria Maiolino, visita ARCO com frequência e em 95 participou indiretamente, com obras suas expostas em uma galeria inglesa.
Quem também já participou da feira madrilenha como galerista, nas edições de 1984 e 1991, e este ano volta como visitante, é o galerista Thomas Cohn, que representa no Rio artistas como Daniel Senise, Lia Menna Barreto e Rosana Palazyan, entre outros.
Cohn é um frequentador assíduo de feiras internacionais. Vai para Caracas em junho, onde já esteve no ano passado, e também pretende ir a Colônia em novembro. "A participação no mercado externo é minha luta desde que abri a galeria, há 13 anos."
"A produção artística brasileira não tinha grande aceitação, mas isso está mudando. A pintura se encontra em um período de estagnação nos EUA e Europa e o colecionador busca novidades na América Latina", disse.
Sobre a rentabilidade da participação em uma feira no exterior, Cohn é cauteloso. "É difícil medir as consequências pois elas vêm a médio prazo. É uma oportunidade para curadores e museus terem novas idéias para mostras e fazer convites. Isso é sempre positivo."
A galerista Luisa Strina concorda. "Muitas vezes viabilizamos exposições depois de feiras internacionais. É um jeito dos marchands verem os trabalhos e se interessarem pela arte brasileira, que tem um frescor que a Europa perdeu", disse. Strina representa artistas como Regina Silveira, Cildo Meireles e Tunga.

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