São Paulo, quarta-feira, 7 de fevereiro de 1996
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O fantasma Josey Wales assombra o Oeste

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Na esteira de Sergio Leone, os faroestes de Clint Eastwood introduziram no gênero um toque de fantástico. É bem menos uma mistura de gêneros do que uma releitura do faroeste clássico que se propõe ali.
"Josey Wales, o Fora-da-Lei" (Record, 13h45) pode não ser o melhor dos Clints, mas está longe de nos levar ao pior dos mundos. Pelo contrário: Wales é o fazendeiro que, após ter a família massacrada pelos ianques, durante a Guerra de Secessão, junta-se às tropas sulistas.
É após o fim da guerra civil, no entanto, quando se instala como rebelde (isto é: não depõe as armas), que Josey cria seu mito de vingador implacável. Mas, se uma ação leva a outra, estamos num ciclo infernal, o das coisas destinadas a não ter fim. Josey estará sempre contra uma força maior, constituída e instituída.
Em compensação, a rebeldia afirma o caráter da personagem. Não é um vivo, é um morto-vivo que toma como fonte de inspiração o passado (os mortos) e só vive em função deles, da vingança.
Pode-se ver essa incidência do mundo dos mortos sobre o dos vivos em dois filmes recentes do diretor: o faroeste "Os Imperdoáveis" e o melodrama "As Pontes de Madison". Em ambos, já se pode ver o autor num momento de maior maturidade.
O que não tira os méritos de Josey Wales, magnífico fantasma que vaga pelo Oeste, sem nada que o apazigue, sem nada que dê consequência a seus atos. E que, de quebra, só com sua presença, renova o faroeste dos anos 70.
No dia, há o batidíssimo "Adeus, Meninos" (Globo, 1h10), um dos mais belos filmes de Louis Malle. Para quem ainda não viu, ou para quem está meio sem sono, ainda é um programa cheio de beleza.

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