São Paulo, quarta-feira, 7 de fevereiro de 1996
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Banco Mundial iguala Bósnia à África

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

A guerra na Bósnia reduziu este país europeu a uma situação quase africana, conforme dados divulgados ontem pelo Banco Mundial, como parte de uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial para a reconstrução dos países da ex-Iugoslávia.
Pelos dados do Banco Mundial, a renda anual por pessoa na Bósnia reduziu-se a praticamente um quarto do que era antes de começar o conflito, em 1991. Passou de US$ 1.900 para meros US$ 500.
O premiê da Bósnia, Hasan Muratovic, calcula que sejam necessários cerca de US$ 3 bilhões ao ano, até o final do século, para reconstruir a economia do país.
É em busca de cooperação para que esse dinheiro seja levantado que o fórum de Davos (Suíça) lançou ontem a sua iniciativa.
Outro dado que revela a "africanização" da Bósnia é o fato de nove de cada dez habitantes dependerem de algum tipo de ajuda humanitária alimentícia.
É mais ou menos o que ocorre em países como Ruanda, devastado por uma guerra tribal.
Durante a guerra na Bósnia, morreram 250 mil pessoas e 200 mil ficaram feridas -13 mil com incapacidades permanentes.
Foram atingidas 63% das casas e, em 18%, a destruição foi total.
A mortalidade infantil aumentou 50%, e, na outra ponta, as matrículas nas escolas caíram exatamente na mesma proporção.
O índice de ligações telefônicas internacionais completadas (entre 35% e 38% das tentativas antes da guerra) caiu a no máximo 2%.
Mesmo ante um cenário tão devastador, o relatório do Banco Mundial não é pessimista.
Diz: "Com uma forte base de capital humano e adotando um conjunto de políticas adequadas, a Bósnia poderia emergir das ruínas da guerra e se tornar uma economia bem-sucedida".
Todas as partes envolvidas no conflito mandaram representantes ao fórum: o primeiro-ministro da Iugoslávia (hoje composta por Sérvia e Montenegro), Radoje Kontic, e o primeiro-ministro croata, Zlatko Matesa, além do bósnio Muratovic.
Só não foram convidados os representantes dos sérvios da Bósnia, cujo líder, Radovan Karadzic, é acusado de crimes de guerra pela Corte Internacional de Justiça.
Kontic foi hospitalizado ontem, com problemas no fígado. Nada grave, segundo seu vice-ministro do Exterior, Radoslav Bulajic.

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